sexta-feira, 20 de junho de 2008

Paco de Lucia

Contrariando a tendência do videoclube Inarmónico, venho falar-vos hoje do Paco de Lucia, guitarrista que deve dispensar apresentações (assim o espero, para o vosso bem). Particularmente de dois álbuns distintos e de tudo o que há entre eles:

Siroco (1987)


Quem conhecer a história do Paco sabe que consiste basicamente em duas etapas distintas:

1. Tocar até cair para o lado desde que o pai o tirou da escola para se dedicar exclusivamente à guitarra. Depois, tocar ainda mais.
2. Conquista mundial. Tocar o dobro.

Ora, durante o processo do ponto 2, Paco teve contacto com muitos dos maiores músicos da sua (nossa) época, e com muitos géneros musicais diferentes. Isto, aliado à sua originalidade, levou a que fosse reinventando o flamenco, e ao trabalho nas fronteiras estilísticas. Se ele foi (como todos os inovadores) bastante criticado e acusado de traição, hoje será mais ou menos unânime que o flamenco nunca mais será o mesmo depois de Paco de Lucia, e que sem ele a guitarra flamenca não teria o alcance que tem hoje.
Siroco é quase como que uma tentativa de definir o estilo, na sua nova concepção. Harmónica e ritmicamente mais colorido, encontra-se bastante próximo da sua raíz, do flamenco mais puro, dos ritmos batidos com palmas, e do canto desgarrado. Mas mais que isso, é um álbum que resulta da paixão pela música e do amor em tocar. E depois há a questão de ficarmos com os queixos no chão com tamanho virtuosismo.


Cositas Buenas (2004)


17 anos depois de Siroco, e tendo desde então trabalhado em projectos tão diferentes como:

Guitar Trio, com Al DiMeola e John McLaughlin; Concerto de Aranjuez (ao que parece era a interpretação preferida do Rodrigo... Discutível); álbum com obras de Manuel de Falla; várias incursões pelo "neo-flamenco",

Paco de Lucia volta a aproximar-se da "autenticidade" de que era acusado de estar alheado. Cositas Buenas é para mim um álbum bastante próximo de Siroco, mas constitui a sua evolução lógica. A paixão orgânica que caracteriza a música não pode deixar ninguém indiferente. A cumplicidade da ligação entre voz (Paco também canta) e guitarra é avassaladora.

É fantástico ver como Paco lida com o conflito entre inovação e personalidade. Duma forma tão fantástica que a ele parece ser completamente indiferente - e deixa-o subjugado pela sua música. Há muito a aprender com este verdadeiro ícone (então para nós, guitarristas clássicos...).

A título de (pequeníssimo) exemplo, aqui fica a parte final de Soleá, do álbum Siroco:



Links:

Site Oficial
Link YouTube 1 - Volar, de Cositas Buenas
Link YouTube 2 - Gloria al Niño Ricardo (Soleá), de Siroco

1 comentário:

Daniel disse...

Cara Metáfora Andante,

Vou usar este post para te chantagear eternamente no clube selecto de guitarristas clássicos virtuosos!

À parte isso, esse sujeito só pode meter asco, pois é indecente o modo como faz essas coisas como se estivesse a beber um copo de água (em boa verdade, ainda dá ideia de ser mais fácil que engolir a dita água), só para zombar dos simples mortais. É inadmissível!