sexta-feira, 20 de junho de 2008

Henryk Gorecki

Há uns tempos fiz um artigo para a wikipedia sobre este compositor, em português. Nem sei se ainda lá está: há sempre um brasileiro qualquer que resolve tirar os acentos todos, modificar as frases todas, ou substituir «polaco» por «polonês» (devem ser os senhores que fazem o pólen de haxixe, não sei). Bom, de qualquer forma, gostava de abrir um tópico sobre Górecki, que fez algumas das minhas obras favoritas do séc. XX, e é um artista que aprecio particularmente. Acho que não era mal pensado pôr aqui o artigo, tratado:



Henryk Górecki nasceu a 6 de Dezembro de 1933 em Czernica, no Sul da Polónia, filho de pais músicos. Apesar de ter demonstrado desde cedo um interesse em estudar música, a morte da sua mãe, quando tinha apenas dois anos, implicou a proibição de poder tocar no piano dela, durante a infância, por ordem do pai. Acabou, no entanto, por ter aulas de violino aos dez anos com um músico amador, Pawel Hadjuga. É a partir de 1951 que Gorecki começa a compor as suas primeiras peças, maioritariamente canções e pequenas peças para piano, quando ingressa na sua primeira escola de música, em Rybnik. Pouco depois, estuda por si mesmo as regras do dodecafonismo e serialismo, e mais tarde evolui para o modernismo de Webern, Xenakis e Boulez. Conclui o curso de composição com Boleslaw Szabelski em Katowice e, depois de uma pós-graduação em Paris, torna-se professor nessa mesma escola onde estudou. Durante o seu estudo, Gorecki apercebe-se da importância de trabalhar para desenvolver uma linguagem própria e as primeiras tentativas surgiram com os Quatro Prelúdios de 1955, e evoluindo seriamente durante os anos sessenta, considerado o seu período mais dissonante. Em 1969, Gorecki parece ter atingido a sua maturidade com Old Polish Music¸mas é nos anos setenta que atingirá o estilo que mais o caracterizará, com obras como Ad Matrem (1971), a Sinfonia nº 3 (Symphony of Sorrowful Songs) e Beatus Vir (ambas de 1979). Gorecki preocupava-se em conseguir uma ligação perfeita entre o conteúdo espiritual e emocional do texto (frequentemente sagrado ou de origem tradicional) com a sua música, e aí residiu o sucesso destas composições.


Com a década de oitenta, Gorecki expande a sua gama de possibilidades e na música dele encontramos radicais contrastes no tempo, nas dinâmicas e na textura harmónica no que toca à oposição consonância/dissonância, ao mesmo tempo influenciado pelo folclore polaco. Tal expansão artística é visível na sua música de câmara, desde Lerchenmusik (1984) a Little Requiem for a Polka - Kleines Requiem fur eine Polka – (1993). Ainda na década de oitenta, Gorecki torna-se politicamente activo e são-lhe característicos actos em nome de uma causa que defende: depois de ter dedicado muito da sua música ao Papa João Paulo II, demite-se do seu cargo de professor da Escola Superior de Música de Katowice como acto de protesto ao governo por não ter permitido a visita do Papa na cidade; já o seu Miserere foi composto para comemorar a violência decretada contra a União Comercial Auto-Governativa. Gorecki é casado com Jadwiga Ruranska e tem dois filhos – Anna, uma pianista, e Mikolaj, compositor.



Tem como obras importantes:

(50-70)

Four Preludes, Op. 1, (Piano), 1955 Three Songs, Op. 3, 1956 Sonata for Piano, Op. 6, 1956 Symphony No. 1, Op. 14, (Strings and Percussion), 1959 Three Pieces in an Old Style, (String Orchestra), 1963 Genesis III, Op. 19, 1963 Choros I, Op. 20, (String Orchestra), 1963

(70-80)

Ad Matrem, Op. 29, 1971 Two Sacred Songs, Op. 30, 1971 Symphony No. 2 ('Copernican'), Op. 31, 1972 Amen, Op 35, 1975 Symphony No. 3 'Symphony of Sorrowful Songs', Op. 36, 1976 Beatus Vir, Op. 38, (Baritone, Choir and Orchestra), 1979


(80-hoje)

Miserere, Op. 44, (Choir a Cappella), 1981 Lerchenmusik, Op. 53 (Clarinet, Cello and Piano), Op. 53, 1984 O Domina Nostra, 1985 Totus Tuus, Op. 60, 1987 Kleines Requiem für eine Polka Op 66, (Piano and Instruments), 1993 Five Kurpian Songs, Op. 75 (Choir), 1999 Niech Nam Zyja I Spiewaja, (Choir), 2000




Bem, mas o que realmente interessa é porque, não conhecendo assim tanto do homem, ele me fascina tanto. A verdade é que não sei bem explicar, mas tem qualquer coisa a ver com o sentido fotográfico ou cinematográfico que ele tem de ver o mundo, em que tudo acontece muito, muito lentamente (um fim dele bem que pode demorar uns seis minutos a acontecer) e isso vai de encontro com o meu sentido de beleza. Gosto da coragem de ser tão modal ou tonal com tanto modernismo, gosto de poder ouvir a música dele durante muitas horas sem cansar o cérebro: como tudo acontece mais devagar, posso acompanhar o que acontece entre os momentos em que «acordo». E, se me propôr a estar desperto durante toda a obra, encontro em cada detalhe algo a que me agarrar, se bem que este género de audição não é, para mim, de todo a melhor. Não quero, por respeito, continuar, é provável que para algumas pessoas esteja a dizer uma carrada de disparates. Ainda por cima, tenho um amigo que provavelmente nos dirá mais sobre este compositor brevemente! Deixo um vídeo que usa a minha parte favorita da 3ª sinfonia, numa montagem de um filme (desculpem, mas praticamente tudo o que há em vídeo dele, são montagens de filmes).

2 comentários:

Daniel disse...

Bem, chegou a altura de não estarmos totalmente de acordo. Tenho de começar por dizer que conheço muito mal a obra do homem, e com detalhe apenas a 3ª Sinfonia (shame on me!). Por isso só posso falar dessa obra.
Devo dizer que da primeira vez que a ouvi, fiquei impressionadíssimo, arrepiado, emocionado, etc; da segunda já nem tanto e depois sucessivamente foi perdendo o efeito. Acho que não me identifico muito com a estética, de uma expressividade neo-espiritualista, neo-antiga (curioso termo!), a que não consigo ficar preso por muito tempo; não te quero contrariar em demasia, mas, simplesmente, essa música já não me convence... Quanto à recuperação de conceitos de música tonal e modal, parece-me mais interessante, para não sair da Polónia, as últimas obras do Penderecki e do Lutoslawsky, um bom tema aliás para desenvolver futuramente.

Bernardo Pinhal disse...

Confesso que não conheço as obras mais recentes: conheço o Totus Tuus, para coro (de cair literalmente para o lado, mas também tem um fim de cinco minutos com a palavra «Maria», que acho, de qualquer forma, espantoso), a sinfonia nº 2 (muuuuito pesada, mesmo, se calhar ias gostar...heavy metal!), e o Beatus Vir (dedicado ao J. Paulo II, também); de resto, são malucadas dos anos 60, também elas brutalíssimas. Entre elas um bocado da sonata para piano, uma boa sugestão para o Jan, por sinal!
Por isso compreendo um bocado o que possas dizer em relação a obras recentes. O Steve Reich, por exemplo, cada merda que faça nos últimos anos é fantástica...
Um abraço.