sábado, 14 de junho de 2008

Bandas a ouvir - Opeth

(Este post apresenta a banda na minha perspectiva e experiência pessoal e serve de preâmbulo à crítica ao novo álbum dos Opeth que farei nos próximos dias, quando o tiver ouvido mais vezes.)


Conheci os Opeth - banda sueca formada em Estocolmo no ano de 1990 - em 2003, por alturas do lançamento do álbum «Damnation». Quando ouvi, estranhei. Era uma música com uma sonoridade fundamentalmente acústica, melódica e sombria, com bastante guitarra eléctrica (passe a contradição), bons solos, mellotron e uma voz limpa e a encaixar perfeitamente no ambiente do álbum. Sentia-se que estávamos perante um esforço conceptual (em sonoridade), uniforme. Adorei. Investigações posteriores trouxeram o espanto (e a desilusão):

1 - o disco era o único dos Opeth com tal sonoridade e inspirado pelo gosto do vocalista/guitarrista/compositor Mikael Åkerfeldt por algum rock progressivo dos anos 70.

2 - o restante trabalho dos Opeth era apelidade de Death Metal Progressivo, designação que imediatamente me causou intensas comichões atrás das orelhas. Que raio de estilo é esse? Impossível!

Na verdade os Opeth foram mais uma vítima do que vem a acontecer nos últimos anos: qualquer banda que não se enquadre nos trâmites normais de determinado estilo leva com o apêndice «Progressivo». Ao ouvir os álbuns dos Opeth percebi: eles eram uma banda de death metal, mas diferente. Em primeiro lugar, não eram tão bons (ou tão maus, dependendo dos ódios do leitor) como as restantes bandas de death metal, eram diferentes. À medida que iam lançando álbuns - Orchid (1995), Morningrise (1996), My Arms Your Hearse (1998), Still Life (1999) - eram cada vez mais notórias as características principais: a sonoridade principal era o death metal, com guitarra baixo e bateria como instrumentos constantes; a voz era maioritariamente sob a forma de guturais mas com cada vez mais intervenções «limpas», revelando um Åkerfeldt vocalista de qualidade; as músicas eram frequentemente longas com extensas secções intermédias acústicas. Eram estes aspectos que confundiam cada vez mais os críticos formatados do metal. No entanto, muitas das músicas ainda soavam algo desconexas, com várias partes diferentes e uma repetição de estruturas (por vezes) sem ganho aparente.

Em 2001 vem aquele que é considerado por muitos como o álbum mais importante na carreira dos Opeth: Blackwater Park. Este esforço marca um definitivo empurrar das fronteiras de estilo contando com a ajuda (na produção, instrumentos e etc.) do senhor Steven Wilson (Porcupine Tree). Este álbum, conjuntamente com o esforço duplo (álbuns gravados ao mesmo tempo) «Deliverance» (2002) e «Damnation» (2003) contam com a produção de Mr. Wilson, assim como a adição de teclados (mellotron for the win!) e outros elementos que levaram o som dos Opeth para outro nível e os prepararam para enfrentar as etapas seguintes sozinhos (sem Steven Wilson, entenda-se). Acima de tudo, o reconhecimento dos Opeth como uma banda "estranha" deu-lhes liberdade para continuarem a experimentar e a desenvolver o seu som.

Em 2005 chega «Ghost Reveries», um álbum mais coeso, mais maduro, mais apurado, melhor. O teclista Per Wiberg (que já acompanhava a banda em concerto) passou finalmente a membro permanente. Os elementos death metal, com toda a sua força e brutalidade estão lá. Os elementos progressivos também, com um trabalho de guitarra de realçar. E finalmente tive que reconhecer a etiqueta «Death Metal Progressivo» como a mais adequada...

Resumindo e concluindo: se o leitor não tolera guturais, fique-se pelo «Damnation». Se até aceita algumas sonoridades mais pesadas aqui e ali, ouça os outros álbuns. Se é uma pessoa "do metal", deixe essas bandas formatadas que ouve e dê atenção aqui aos amigos da Suécia, que fazem o melhor metal da actualidade.
Quanto a mim, sou fã dos últimos álbuns. Não deixo, no entanto, de sentir alguma pena. Os Opeth são capazes de numa só música fazer do melhor e do pior. Com uma voz daquelas, bem que podiam manter o instrumental pesado e deixar os guturais para os outros. É o meu lado progressivo a falar...

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