sexta-feira, 27 de junho de 2008

Estudos de Scriabin

Bem, nada de particularmente interessante para dizer; mas, já que o inarmónico é um blog, também tem por supuesto uma vertente de diário das nossas dissonancisses, dissonâncias e dissonantismos. A minha recente dissonancisse comprada hoje (finalmente...! para um estudante de piano, a demora é bastante má :S ) foram os estudos de Scriabin. E é incrível como até o primeiro, o op. 2 nº qualquer-coisa (composto, por sinal, aos quinze anos!) é uma obra espantosa. Mas, como praticamente em qualquer compositor, em que as obras vistas como as mais geniais são as dos seus últimos anos de vida, os estudos mais incríveis do homem são mesmo os três op. 65, compostos em 1908. O primeiro tem a mão direita a fazer nonas cromáticas. Coisa fácil, deduzirão certamente... o segundo, sétimas, e o último abusa das quintas. E qualquer um deles, diga-se de passagem, abusa da nossa resistência contra a depressão... lol. [ok, vou calar-me, esta foi muito má]

Bem, encontrei um vídeo - que não é vídeo nenhum, é apenas uma gravação - do Richter a tocar os três seguidos no youtube.
Para os que não conhecem Scriabin, ou não conhecem bem... aproveitem, até porque os estudos são curtinhos (Pedro, não tens desculpa, já te mostrei uns prelúdios! ).



Bernardo.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O King

Depois de algumas semanas mergulhado nessa obra-prima absoluta que é o Coro, de 1976 - e noto que não uso essa adjectivação a torto e a direito, muito menos para música contemporânea - não podia deixar de partilhar de alguma forma o meu fascínio actual, visceral, doentio, obsessivo, compulsivo, devorador, pela música de Berio. Um excerto (sem a qualidade sonora desejável, é verdade) só para abrir hostilidades... (é da Sinfonia, de 1968).

terça-feira, 24 de junho de 2008

Kafka à Beira-Mar


"- Quando estou a conduzir gosto de ouvir as sonatas para piano de Schubert com o volume no máximo. Sabes porquê?
- Não faço ideia.
- Porque tocar uma sonata para piano de Schubert é das coisas mais difíceis. Sobretudo esta Sonata em Ré Maior. É uma peça de grande dificuldade. Alguns pianistas conseguem executar de um modo perfeito um, dois movimentos, mas, na minha opinião, se escutares com atenção os quatro andamentos, verás que nunca ninguém logrou arrancar das teclas a tonalidade certa que a sonata, na sua totalidade, exige. Muitos foram os pianistas famosos que se esmeraram, na tentativa de provar que estavam à altura do desafio, mas é como se faltasse sempre qualquer coisa. Até à data não existe uma única interpretação que te leve a dizer É isso mesmo! Ele conseguiu! Sabes porquê?
- Não.
- Porque esta sonata é, em si própria, imperfeita. Robert Schumann, que conhecia bem as sonatas de Schubert, classificou-a de "divinamente longa".
- Se a composição é imperfeita, como se explica que existam tantos pianistas apostados em tocá-la na perfeição?
- Boa pergunta - diz Oshima. (...)"

- Excerto de Kafka à Beira-mar, de Haruki Murakami

8bit-mania 2

Como falei no meu post de estreia, há muitas bandas hoje em dia inspiradas nos jogos de computador da época dourada. Uma banda que reclama alguma dessa influência são os Dragon Force.

Para quem não conhece, começo por descrever a banda:

Imaginem dois Yngwie Malmsteems que tomaram café a mais. Metam os dois na mesma banda, adicionem um baixista e um teclista que não se ouvem. Para baterista, o coelho da Duracell em modo pedal duplo. Isto tudo para a tocar o quê? Power Metal... Com influências de música de vídeo jogos.

Se ficaram curiosos com a descrição e querem ouvir Dragon Force... Bem, não ouçam. Se houvesse um limite de notas por segundo, os gajos incorriam numa contra-ordenação muito grave com direito a apreensão da carta. O cérebro humano não deve conseguir processar tantas notas por segundo, aliás, se forem teimosos e ouvirem, o risco de ficarem com o cérebro derretido é vosso.

Ainda assim, ouvi esta música no outro dia (nem me perguntei como fui dar de ouvidos com isto) e deu-me uma sensação de familiaridade tão grande que eu tinha a certeza que já tinha ouvido aquilo em qualquer lado.

Quem me conhece sabe que sou obsessivo-compulsivo. Passei a semana toda a remoer até que me lembrei de onde conhecia a música: do Super Hang-On, jogo de motas da Mega Drive. Coincidência ou mais que isso? Ouçam e decidam! (basta ouvirem os primeiros segundos de cada)


Dragon Force - Fields of Despair (devido ao risco de explosão cerebral, administrar em quantidades moderadas)



Super Hang-On - Sega Mega Drive - Música: Winning Run

domingo, 22 de junho de 2008

Gorecki (2)

Bem, não resisto, e ainda para mais vocês já devem ter percebido que eu funciono um bocado por vícios (enquanto for só música e tabaco, passo muito bem!) e como tal, aí vai:

2º andamento da 2ª sinfonia de Gorecki saquem, e oiçam (garanto-vos que só encontram isto em cd, e com sorte)

Vá, promento que para a próxima vez que vos chatear é com qualquer coisa diferente!

Bernardo.

PS: espero que o link funcione, acho que é a primeira vez que faço isto.

sábado, 21 de junho de 2008

Radiohead: 10 anos para gravar uma música

Li um artigo muito interessante sobre o facto da faixa «Nude», do último álbum dos Radiohead, já existir desde alturas do «The Bends». Em vez de estar a relatar-vos o que li e a dar a minha opinião pessoal deixo a transcrição das declarações do Nigel Godrich (produtor da banda). Vejam como se podem passar 10 anos sem estarem plenamente satisfeitos com uma canção e não deixar de tentar que ela atinja a forma certa (percepção reservada apenas a alguns, e mesmo assim discutível).

«Thom's very prolific, he's always writing, and one time I made a list of songs that he had that they hadn't recorded. Radiohead have a little catalogue of songs that just never get done. It's almost because it's their best material and no version is ever quite good enough. It's too precious to them. I said, "You have to record them, because one day you're going to die and they'll go with you. It's criminal. And if you don't fucking record them, I'm going to fucking do it! I'll do a covers album!" And Nude was one of these songs.

After The Bends was all done and dusted, I'd seen them at a show and they said they'd been thinking about us all working together. We'd done a bunch of B-sides on The Bends and it had gone really well, so we hatched a plan to have a couple of little try-outs to see how it would work.

We booked a weekend in the studio to start recording what would become OK Computer, although it took a long time to really get into that. We recorded two songs; one was called Big Boots – actually, it was called Man O' War at the time, which is another great lost Radiohead classic. The other thing we tried to record was a song called Nude. Thom had just written it and it was almost a different song to the version on In Rainbows. It's recognisable, but it had different lyrics and it was a lot straighter. The idea was for it to be like an Al Green track. It had a Hammond going through it on the version we recorded that weekend. They liked it, it was deemed a great success. But then for some reason everyone went off it. We tried to record it a couple more times for OK Computer, probably about three times for Kid A and another three times for Hail To The Thief. But somehow it had gone.

We had a little holiday from each other. The band tried to record on their own, which – surprise, surprise – didn't work. Then they tried working with someone else, which also didn't work. During that time I went to see Colin, the bass player, and he played me a rough live version of Nude that they'd done in rehearsals. He'd written his new bassline, which transformed it from something very straight into something that had much more of a rhythmic flow. The chorus had been taken out – very Radiohead! – and there was this new vocal break and this new end section. It sounded like they were somehow terrified playing it, but it sounded OK. We recorded it three times and the final one – which we did in their house and then overdubbed in Covent Garden – is what you hear today.

Finally, for some inexplicable reason, it made it out! With Radiohead we always say, "It doesn't matter how we get there, as long as we end up at the right place," but actually I think the real skill is being able to recognise something that lands on your lap and is fully formed and wonderful. A big part of my job is trying to persuade Thom that just because this thing happened very quickly, it doesn't mean it's not great. He doesn't understand what it is about what he does that's great. He doesn't know or understand where it comes from.

Songs have a kind of window where they are really most alive – and you have to capture it. Nude missed its window, and it took a lot of reinvention to bring it back to the place where we could capture it again in a way that resonated for the people playing it. It was essentially the same song; nothing had really changed. What has changed are the people playing it.»



«Nigel Godrich started out at RAK Studios, where he engineered Carnival Of Light by Ride and The Bends by Radiohead. He has produced Radiohead's last four albums, and has also worked with Travis, Paul McCartney (Chaos And Creation In The Back Yard) and on Beck's last three albums. He remixed U2's Walk On and produced Band Aid 20's Do They Know It's Christmas?»

It's easy to forget

Obrigado pelo convite pessoal, é uma honra ter sido distinguido com inharmonicidade...

Não me alongo em discursos porque também não disponho de flexibilidade temporal para eles nesta fase do ano, mas prometo algo mais elaborado eventualmente, simplesmente limito-me a deixar aqui um videozinho que não vale pelo video em si(sendo o Mar Português escusado), mas sim pela música que passa e pela pessoa que a compôs. Lamento Bernardo, não vou aceder ao teu pedido e não prestarei homenagem a Gorecki, mas sim a um compatriota vosso por sangue e meu por coração, que, infelizmente, não tendo passado nenhuma data de Jubileu nos últimos anos em relação à sua pessoa, me parece muitíssimo esquecido, sendo uma dor enorme para qualquer amanta de música. Alguém que nos deixou algo como este bocado de pura alma, que ouvimos deveria ser homenageado constantemente, investigado, e apresentado num pedestal ao público geral.

Tristemente, constato que nada disso se passa. Aliás, deduzo que até 2024, quando farão 100 anos desde o seu nascimentos, ou quem sabe, se o dinheiro escassear, só em 2038 com os 50 anos da sua morte é que ouviremos um aplauso e um tirar do chapéu nacional a este enorme compositor.



Concluindo, prometendo uma continuação noutra ocasião, pergunto:
Lopes-Graça, Carlos Seixas, Luís de Freitas Branco, António Pinho-Vargas, Emanuel Nunes entre outros tantos... e o Joly?

Jan W.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Henryk Gorecki

Há uns tempos fiz um artigo para a wikipedia sobre este compositor, em português. Nem sei se ainda lá está: há sempre um brasileiro qualquer que resolve tirar os acentos todos, modificar as frases todas, ou substituir «polaco» por «polonês» (devem ser os senhores que fazem o pólen de haxixe, não sei). Bom, de qualquer forma, gostava de abrir um tópico sobre Górecki, que fez algumas das minhas obras favoritas do séc. XX, e é um artista que aprecio particularmente. Acho que não era mal pensado pôr aqui o artigo, tratado:



Henryk Górecki nasceu a 6 de Dezembro de 1933 em Czernica, no Sul da Polónia, filho de pais músicos. Apesar de ter demonstrado desde cedo um interesse em estudar música, a morte da sua mãe, quando tinha apenas dois anos, implicou a proibição de poder tocar no piano dela, durante a infância, por ordem do pai. Acabou, no entanto, por ter aulas de violino aos dez anos com um músico amador, Pawel Hadjuga. É a partir de 1951 que Gorecki começa a compor as suas primeiras peças, maioritariamente canções e pequenas peças para piano, quando ingressa na sua primeira escola de música, em Rybnik. Pouco depois, estuda por si mesmo as regras do dodecafonismo e serialismo, e mais tarde evolui para o modernismo de Webern, Xenakis e Boulez. Conclui o curso de composição com Boleslaw Szabelski em Katowice e, depois de uma pós-graduação em Paris, torna-se professor nessa mesma escola onde estudou. Durante o seu estudo, Gorecki apercebe-se da importância de trabalhar para desenvolver uma linguagem própria e as primeiras tentativas surgiram com os Quatro Prelúdios de 1955, e evoluindo seriamente durante os anos sessenta, considerado o seu período mais dissonante. Em 1969, Gorecki parece ter atingido a sua maturidade com Old Polish Music¸mas é nos anos setenta que atingirá o estilo que mais o caracterizará, com obras como Ad Matrem (1971), a Sinfonia nº 3 (Symphony of Sorrowful Songs) e Beatus Vir (ambas de 1979). Gorecki preocupava-se em conseguir uma ligação perfeita entre o conteúdo espiritual e emocional do texto (frequentemente sagrado ou de origem tradicional) com a sua música, e aí residiu o sucesso destas composições.


Com a década de oitenta, Gorecki expande a sua gama de possibilidades e na música dele encontramos radicais contrastes no tempo, nas dinâmicas e na textura harmónica no que toca à oposição consonância/dissonância, ao mesmo tempo influenciado pelo folclore polaco. Tal expansão artística é visível na sua música de câmara, desde Lerchenmusik (1984) a Little Requiem for a Polka - Kleines Requiem fur eine Polka – (1993). Ainda na década de oitenta, Gorecki torna-se politicamente activo e são-lhe característicos actos em nome de uma causa que defende: depois de ter dedicado muito da sua música ao Papa João Paulo II, demite-se do seu cargo de professor da Escola Superior de Música de Katowice como acto de protesto ao governo por não ter permitido a visita do Papa na cidade; já o seu Miserere foi composto para comemorar a violência decretada contra a União Comercial Auto-Governativa. Gorecki é casado com Jadwiga Ruranska e tem dois filhos – Anna, uma pianista, e Mikolaj, compositor.



Tem como obras importantes:

(50-70)

Four Preludes, Op. 1, (Piano), 1955 Three Songs, Op. 3, 1956 Sonata for Piano, Op. 6, 1956 Symphony No. 1, Op. 14, (Strings and Percussion), 1959 Three Pieces in an Old Style, (String Orchestra), 1963 Genesis III, Op. 19, 1963 Choros I, Op. 20, (String Orchestra), 1963

(70-80)

Ad Matrem, Op. 29, 1971 Two Sacred Songs, Op. 30, 1971 Symphony No. 2 ('Copernican'), Op. 31, 1972 Amen, Op 35, 1975 Symphony No. 3 'Symphony of Sorrowful Songs', Op. 36, 1976 Beatus Vir, Op. 38, (Baritone, Choir and Orchestra), 1979


(80-hoje)

Miserere, Op. 44, (Choir a Cappella), 1981 Lerchenmusik, Op. 53 (Clarinet, Cello and Piano), Op. 53, 1984 O Domina Nostra, 1985 Totus Tuus, Op. 60, 1987 Kleines Requiem für eine Polka Op 66, (Piano and Instruments), 1993 Five Kurpian Songs, Op. 75 (Choir), 1999 Niech Nam Zyja I Spiewaja, (Choir), 2000




Bem, mas o que realmente interessa é porque, não conhecendo assim tanto do homem, ele me fascina tanto. A verdade é que não sei bem explicar, mas tem qualquer coisa a ver com o sentido fotográfico ou cinematográfico que ele tem de ver o mundo, em que tudo acontece muito, muito lentamente (um fim dele bem que pode demorar uns seis minutos a acontecer) e isso vai de encontro com o meu sentido de beleza. Gosto da coragem de ser tão modal ou tonal com tanto modernismo, gosto de poder ouvir a música dele durante muitas horas sem cansar o cérebro: como tudo acontece mais devagar, posso acompanhar o que acontece entre os momentos em que «acordo». E, se me propôr a estar desperto durante toda a obra, encontro em cada detalhe algo a que me agarrar, se bem que este género de audição não é, para mim, de todo a melhor. Não quero, por respeito, continuar, é provável que para algumas pessoas esteja a dizer uma carrada de disparates. Ainda por cima, tenho um amigo que provavelmente nos dirá mais sobre este compositor brevemente! Deixo um vídeo que usa a minha parte favorita da 3ª sinfonia, numa montagem de um filme (desculpem, mas praticamente tudo o que há em vídeo dele, são montagens de filmes).

Paco de Lucia

Contrariando a tendência do videoclube Inarmónico, venho falar-vos hoje do Paco de Lucia, guitarrista que deve dispensar apresentações (assim o espero, para o vosso bem). Particularmente de dois álbuns distintos e de tudo o que há entre eles:

Siroco (1987)


Quem conhecer a história do Paco sabe que consiste basicamente em duas etapas distintas:

1. Tocar até cair para o lado desde que o pai o tirou da escola para se dedicar exclusivamente à guitarra. Depois, tocar ainda mais.
2. Conquista mundial. Tocar o dobro.

Ora, durante o processo do ponto 2, Paco teve contacto com muitos dos maiores músicos da sua (nossa) época, e com muitos géneros musicais diferentes. Isto, aliado à sua originalidade, levou a que fosse reinventando o flamenco, e ao trabalho nas fronteiras estilísticas. Se ele foi (como todos os inovadores) bastante criticado e acusado de traição, hoje será mais ou menos unânime que o flamenco nunca mais será o mesmo depois de Paco de Lucia, e que sem ele a guitarra flamenca não teria o alcance que tem hoje.
Siroco é quase como que uma tentativa de definir o estilo, na sua nova concepção. Harmónica e ritmicamente mais colorido, encontra-se bastante próximo da sua raíz, do flamenco mais puro, dos ritmos batidos com palmas, e do canto desgarrado. Mas mais que isso, é um álbum que resulta da paixão pela música e do amor em tocar. E depois há a questão de ficarmos com os queixos no chão com tamanho virtuosismo.


Cositas Buenas (2004)


17 anos depois de Siroco, e tendo desde então trabalhado em projectos tão diferentes como:

Guitar Trio, com Al DiMeola e John McLaughlin; Concerto de Aranjuez (ao que parece era a interpretação preferida do Rodrigo... Discutível); álbum com obras de Manuel de Falla; várias incursões pelo "neo-flamenco",

Paco de Lucia volta a aproximar-se da "autenticidade" de que era acusado de estar alheado. Cositas Buenas é para mim um álbum bastante próximo de Siroco, mas constitui a sua evolução lógica. A paixão orgânica que caracteriza a música não pode deixar ninguém indiferente. A cumplicidade da ligação entre voz (Paco também canta) e guitarra é avassaladora.

É fantástico ver como Paco lida com o conflito entre inovação e personalidade. Duma forma tão fantástica que a ele parece ser completamente indiferente - e deixa-o subjugado pela sua música. Há muito a aprender com este verdadeiro ícone (então para nós, guitarristas clássicos...).

A título de (pequeníssimo) exemplo, aqui fica a parte final de Soleá, do álbum Siroco:



Links:

Site Oficial
Link YouTube 1 - Volar, de Cositas Buenas
Link YouTube 2 - Gloria al Niño Ricardo (Soleá), de Siroco

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Nostalgias e Acasos Cósmicos

Para deixar o Telmo um pouco mais confortável com a suposta "mariquice" do post anterior, aqui deixo também a minha, com três vídeos (na realidade três músicas que também mudaram a minha vida, já lá vai uns anitos).










A história do rock é uma curva ascendente até 1973, e depois uma lenta decadência. Há excepções, mas tão escassas, que não contrariam a tendência geral (noto que pode haver muita coisa interessante nos anos 80 e 90, mas nada ao nível de 1973). Esse Entangled, dos Genesis já sem Peter Gabriel (em 1976), é quase um canto de cisne de um certo tipo de música.

A propósito de 1973, pergunto-me que raio de acaso cósmico terá conjugado nesse ano uma série de obras-primas, entre as quais:

Pink Floyd - The Dark Side of The Moon
Genesis - Selling England by the Pound
Yes - Tales from Topographic Oceans
Mike Oldfield - Tubular Bells
Emerson Lake & Palmer - Brain Salad Surgery
Black Sabbath - Sabbath Bloody Sabbath

Os vídeos que mudaram a minha vida

Quem lê esta mesma página, deste mesmo blog, percebe facilmente a importância que o youtube tem na música: quase todos os posts têm videos!

De facto, a importância do site é mais que óbvia na internet de hoje. Quem já não passou horas no youtube a relembrar os videos da sua banda favorita, a ver os sketches do Gato Fedorento ou Monty Python ou a relembrar a Rua Sésamo?

No meio disso tudo, como qualquer forma de comunicação, também este serviço tem a capacidade de mudar as nossas vidas. De seguida vão três vídeos que vi no youtube e que mudaram a minha maneira de ver a música, acompanhados de uma explicação:


Houve uma altura da minha vida em que só ouvia punk-rock. Depois entrei para a faculdade e comecei a ouvir outras coisas, os gostos foram-se alargando, e, de certa forma, acabei por renegar essa parte do meu passado. Este vídeo não é de uma banda punk no estilo musical mas é de uma banda punk na atitude. De certa forma reconciliou-me com esse meu passado esquecido (que frase maricas):

The MC5 - Ramblin' Rose



A pérola seguinte é um vídeo que já vi centenas de vezes no youtube. E não cansa. Gene Krupa mostra que não é preciso ser "O MAIOR BATERISTA DE TODOS OS TEMPOS (todos os direitos reservados)" para dar chocolate! Acho que nunca vi ninguém a curtir tanto aquilo que está a tocar.

Gene Krupa having a good time



E o último vídeo é... A melhor actuação de sempre do melhor guitarrista de sempre:

Jimi Hendrix - Wild Thing Live @ Monterrey

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Bom dia! com Turangalîla (Messiaen)



Para acordar cheio da pica!! "Joy of the Blood of the Stars" , o quinto andamento desta sinfonia.

Que, por sinal, temos MEESMO que falar, já que é das obras orquestrais mais impressionantes!

(para os desconhecedores, aquele «sintetizador marado» são as ondas martenot, que era, imagine-se, o instrumento favorito de Messiaen =P

Bernardo.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Tributo a (dois) mestres

Depois do textinho sobre o Tarkovsky, aqui vai um brevíssimo post sobre outro grande realizador, o Michelangelo Antonioni - recentemente falecido, salvo erro no mesmo dia do Bergman (!) - com uma cena do magnífico filme Zabriskie Point. Deixo a cena porque funciona por si mesma, e fora do contexto do filme não será spoiler para ninguém. Espero é que seja um incentivo a que o vejam (se já não o viram). Passa regularmente no TCM. A magnífica música (a partir de um minuto e meio, mais ou menos), é dos nossos velhos amigos Pink Floyd. Espero que gostem!



Daniel

UC Men's Octet

Estive a ler posts deste blog e, a propósito do Daniel ter falado do Coral de Letras, eu lembrei-me de algumas cenas que tinha visto no youtube com corais de universidades americanas.

Já de certeza todos viram o vídeo dos gajos a cantarem músicas da Nintendo a capella. Como este, há muitos grupos académicos nos US, alguns com piada, outros nem por isso. Continuei a pesquisa e descobri estes senhores:

UC Men's Octet de Berkley

Há montes de videos deles no youtube, covers a capella de músicas pop. Não posso postar todos senão isto ficava gigante, se gostarem procurem vocês.

Bohemian Rapsody


Stayin' Alive


Black Bird


Paperback Writer


Para além disto, ainda cantam Nirvana, Justin Timberlake, U2, Michael Jackson com mais ou menos potencial cómico. E fica a ideia para os corais das nossas faculdades: E que tal música pop? Era capaz de levar mais pessoas aos concertos ;)

Harpa Laser

De certeza já todos ouviram falar da Wii a nova consola da Nintendo. Tem um comando com sensor de movimento do qual faz um uso extremo, obtendo resultados fantásticos.

Quem se interessa por essas macacadas, também ja encontrou decerto diversos sites com usos alternativos para esse fantástico controlo remoto, que basicamente é melhor que o resto da consola.

Sendo este um blog sobre música, não me queria alongar muito neste campo, por isso vamos ao que interessa. O wiimote (o nome do controlo) é uma ferramenta fantástica, mas não especialmente pelo sensor de movimentos. Vem equipado com uma câmara de infravermelhos que mete no bolso a maioria das webcams e tem capacidade para comunicar por bluetooth, o que permite enviar os sinais para um pc, por exemplo.

Aqui vai um exemplo de um uso disso na música. Vejam primeiro e depois eu explico:


Esse senhor do vídeo está a atravessar os lasers com a sua mão. A grande concentração de luz nas mãos vai ser captada pelo wiimote (com um filtro para captar o laser em vez dos típicos infra-vermelhos) que envia o sinal ao computador. Um software lê esse input trata-o como o pressionar de uma tecla num teclado midi, tocando um sintetizador.

Agora gostava era de ver uma banda a utilizar isto em vez de um teclado. :D

Panic At The Disco - Pretty. Odd.

Foi com bastante surpresa que no outro dia, em conversa com o Pedro, ele mencionou que os Panic! At The Disco (agora Panic At the Disco) lançaram um álbum interessante, com influências de Beatles e não sei mais o quê. Desculpa Pedro, não me lembro bem da conversa, mas o que é facto é que a curiosidade cresceu e decidi ouvir o álbum.


De facto, a ex banda emo-punk tem aqui um trabalho bastante diferente daquilo a que habituaram os seus fãs (para bem da humanidade). Influências de Beatles e Alice no País das Maravilhas a rodos (mesmo, até no vídeo, como vão poder comprovar).

O guitarrista Ryan Ross diz, nesta entrevista ao site ultimate-guitar.com, que o seu desejo é que os PATD sejam os próximos Radiohead. Salvações do rock aparte, até porque este registo não traz nada de novo ao rock em si, estamos na presença de um óptimo álbum pop: bem produzido, canções muito catchy, boas influências. Apesar do elevado número de faixas (15) não se pode dizer que existam fillers (músicas para encher chouriço, como em 99% dos álbuns com mais de 12 músicas) e quase todas as músicas têm capacidade de funcionar como single numa rádio perto de si.

Não estamos na presença de nada espectacular, como já disse, mas é um disco que me surpreendeu, até porque hoje em dia já quase não há pop decente. Aliás, a pop que há (boa ou má) é toda uma mistura de música electrónica com hiphop e/ou R&B, sendo que uma banda que ainda toca guitarras é uma lufada de ar fresco (paradoxalmente).

E aqui está o primeiro "hitsingler" da banda. Como passatempo adicional, tentem encontrar todas as referâncias aos fab-four!



É um óptimo álbum para uma tarde feliz e bem passada a fazer um piquenique :D

Recital =)

É verdade, vou tocar esta quinta-feira às 21:30 na Escola de Música Óscar da Silva, juntamente com um amigo meu, guitarrista da Esmae (um senhor!), o Nuno Pinto.
É curto, meia-hora ele, meia-hora eu, pequeno intervalo a meio.
Apareçam se quiserem.

(notas aos compositores: desculpem, mas nada de música contemporânea da minha parte, vou tocar o meu programa deste ano...! No máximo, um prelúdio de Débussy. Ele é que parece que vai tocar umas cenas bem porreiras!)

Bernardo.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Novo album de Metallica

A quem interessar, os Metallica anunciaram, no passado dia 14 o nome do seu próximo álbum, a ser editado no próximo mês de Setembro.

Segundo esta imagem postada no site da banda, o álbum chamar-se-à Death Magnetic. Além da imagem, um vídeo promocional de poucos segundos também foi disponibilizado. Apesar de ser pouco interessante, é acompanhado por um riff de uma das músicas, confirmando aquilo que já vinha sendo dito sobre o facto da banda estar a tentar voltar ao som mais trash dos seus tempos dourados:



Uma rápida pesquisa no youtube ajuda a aguçar ainda mais o apetite:
(este video é uma compilação de trailers lançados pelo site MissionMetallica o que não garante que algum destes riffs são parte da versão final do álbum)

domingo, 15 de junho de 2008

Interpretação e bom senso

Ora bem, tanbém queria apresentar aqui uma reflexão fofinha. Sobre o bom senso na música.

Ontem ouvi um gajo, que não vou dizer quem é, a tocar piano. É um homem que está no caminho de se tornar pianista e que tem tudo para isso: técnica excelente, sensibilidade muito apurada, criatividade verdadeiramente espantosa. Apesar de bastante preguiçoso, segundo dizem, teve resultados muito, muito bons; apesar de já estar numa idade algo difícil vai voltar a concorrer para estudar lá fora, depois de já ter passado por três professores extraordinários em três países diferentes. Voltando, ontem ouvi-o tocar. E o que me chamou à atenção para falar, foi isto:

Como é que alguém que consegue inventar atmosferas tão extraordinárias ao piano, que faz interpretações tão diferentes do que já ouvi toma decisões musicais tão pouco cautelosas? Parece haver tanta ânsia em fazer momentos diferentes do que já ouvimos, que resulta em algo musicalmente...estranho, disconexo, ou, mesmo que seja conexo, pouco agradável, ou pouco desagradável, conforme for o objectivo. Explicar-vos por escrito é muito, muito difícil, mas vou tentar. Nós podemos sentar-nos, fazer uma interpretação incrivelmente diferente e ser «genial». E é genial porquê:
  1. Quem conhece a obra acha muito diferente e, como está correcto, lógico e coeso, interessante.
  2. Quem não conhece a obra, acha divertido e, mesmo não se identificando com muitas coisas que sentiu, acha interessante
  3. Quem pura e simplesmente não gostou, dá-lhe valor na mesma, porque está interessante. Ah, e correcto, esqueci-me da palavra.
Porque acredito sinceramente que exista este conceito houseano na música, também, e acredito também que a música é ciência - esta palavra no sentido mais bonito e romântico. Não podemos fazer o que nos apetece se, à obra que estamos a tocar e que entretanto ganha vida, lhe apetecer o contrário (no caso dessa pessoa que ouvi não era de todo flagrante, porque, como vos falei estou a falar do mais alto nível, ele não deixa de ser um excelente pianista. Mas notavam-se algumas coisas que não lhe ficavam assim tao bem). Porque é este mesmo o problema: fazer música não é apenas criar o belo, o horror, o dramático, o divertido, é também a lógica que une estas coisas todas e faz com que toda a gente perceba que caralho estamos a fazer em cima do palco! Se me proponho a tocar uma obra com trinta minutos, tenho trinta minutos para fazer perceber às pessoas o que quero. Não tenho 1+5+3,5+8+3,5+5+1+3. Se um é uma introdução, cinco uma atmosfera de selva e o 3,5 um ambiente verde-garrafa, a «selvagendade» do cinco está obviamente condicionada pelo verde que lhe segue; e se o objectivo for não ter qualquer relação, então esse «não ter qualquer relação» tem que formar a relação entre as duas partes.

Da mesma forma que se eu quero fazer uma suspensão de 15 segundos numa obra, suspensão essa que demora o triplo do tempo que geralmente é feito, assumo-a até ao fim: imóvel, quieto, sem retirar as mãos do teclado, respirando de forma inaudível, etc. Se algo que é diferente já custa a entrar à primeira, então se for mal feito...ora merda!

Não me levem a mal, ou não me interpretem mal, porque é fácil interpretarem mal o que acabei de dizer. Já falei de música com palavras que assustam muita gente: Ciência, Certo, e só falta falar em objectividade, que também há, e muito, muito mais do que geralmente se pensa. Começa logo com alguns princípios: quem vai a um concerto, vai para sentir alguma coisa, para aprender alguma coisa, para se surpreender, para lhe suscitar alguma coisa. Antes de fazerem interpretações malucas, com cálculos astronómicos, pensem primeiro nisto. Oiçam mentalmente, do princípio ao fim, se o que querem fazer vai entrar na cabeça das pessoas.

Mas pronto, podia estar a tarde toda aqui a falar disto, que provavelmente ainda não conseguiria dizer tudo o que penso, e já estou a abusar um bocado do tempo de antena. =P

Bernardo.

sábado, 14 de junho de 2008

Imparcialidade

De todas as capacidades socialmente aceites como qualidades, a imparcialidade é a que me provoca mais desconfiança, que é ampliada quando falamos de Música/Arte.
Sem entrar na Filosofia da Arte, dissertando acerca do seu significado e definição, irrelevante para o caso, acho sensato tomar como certo - numa lógica quase positivista - que a Arte influencia profundamente a nossa vida, em quase todos os aspectos. Mesmo que não o saibamos. E mesmo que a nossa visão seja meramente conceptual.
Imparcialidade na aproximação à Arte significa relegarmos para segundo plano tudo o que faz de nós o que somos, cair na ingenuidade de achar que alguém poderá ter mais ou menos verdade na sua experiência e na sua vivência do que nós. Se há determinadas correntes estilísticas, determinados artistas ou obras que nos transmitem sentimentos e percepções mais completas que outros, porque não privilegiá-las? Sobretudo quando o conhecimento total é apenas e só utópico - cometer a excentricidade de achar que podemos saber algo sobre tudo é ficar com nada sobre nada.
Convém, ainda assim, distinguir imparcialidade de abertura de mente, sendo que a última se refere à humildade e ao espírito crítico de querer complementar as nossas experiências, mas partindo delas, nunca o contrário. Claro que a fronteira entre as duas pode ser (e é) muito ténue, mas, como em quase tudo, julgo que a resposta está na ausência de absolutismos - e na auto-confiança.

Bandas a ouvir - Opeth

(Este post apresenta a banda na minha perspectiva e experiência pessoal e serve de preâmbulo à crítica ao novo álbum dos Opeth que farei nos próximos dias, quando o tiver ouvido mais vezes.)


Conheci os Opeth - banda sueca formada em Estocolmo no ano de 1990 - em 2003, por alturas do lançamento do álbum «Damnation». Quando ouvi, estranhei. Era uma música com uma sonoridade fundamentalmente acústica, melódica e sombria, com bastante guitarra eléctrica (passe a contradição), bons solos, mellotron e uma voz limpa e a encaixar perfeitamente no ambiente do álbum. Sentia-se que estávamos perante um esforço conceptual (em sonoridade), uniforme. Adorei. Investigações posteriores trouxeram o espanto (e a desilusão):

1 - o disco era o único dos Opeth com tal sonoridade e inspirado pelo gosto do vocalista/guitarrista/compositor Mikael Åkerfeldt por algum rock progressivo dos anos 70.

2 - o restante trabalho dos Opeth era apelidade de Death Metal Progressivo, designação que imediatamente me causou intensas comichões atrás das orelhas. Que raio de estilo é esse? Impossível!

Na verdade os Opeth foram mais uma vítima do que vem a acontecer nos últimos anos: qualquer banda que não se enquadre nos trâmites normais de determinado estilo leva com o apêndice «Progressivo». Ao ouvir os álbuns dos Opeth percebi: eles eram uma banda de death metal, mas diferente. Em primeiro lugar, não eram tão bons (ou tão maus, dependendo dos ódios do leitor) como as restantes bandas de death metal, eram diferentes. À medida que iam lançando álbuns - Orchid (1995), Morningrise (1996), My Arms Your Hearse (1998), Still Life (1999) - eram cada vez mais notórias as características principais: a sonoridade principal era o death metal, com guitarra baixo e bateria como instrumentos constantes; a voz era maioritariamente sob a forma de guturais mas com cada vez mais intervenções «limpas», revelando um Åkerfeldt vocalista de qualidade; as músicas eram frequentemente longas com extensas secções intermédias acústicas. Eram estes aspectos que confundiam cada vez mais os críticos formatados do metal. No entanto, muitas das músicas ainda soavam algo desconexas, com várias partes diferentes e uma repetição de estruturas (por vezes) sem ganho aparente.

Em 2001 vem aquele que é considerado por muitos como o álbum mais importante na carreira dos Opeth: Blackwater Park. Este esforço marca um definitivo empurrar das fronteiras de estilo contando com a ajuda (na produção, instrumentos e etc.) do senhor Steven Wilson (Porcupine Tree). Este álbum, conjuntamente com o esforço duplo (álbuns gravados ao mesmo tempo) «Deliverance» (2002) e «Damnation» (2003) contam com a produção de Mr. Wilson, assim como a adição de teclados (mellotron for the win!) e outros elementos que levaram o som dos Opeth para outro nível e os prepararam para enfrentar as etapas seguintes sozinhos (sem Steven Wilson, entenda-se). Acima de tudo, o reconhecimento dos Opeth como uma banda "estranha" deu-lhes liberdade para continuarem a experimentar e a desenvolver o seu som.

Em 2005 chega «Ghost Reveries», um álbum mais coeso, mais maduro, mais apurado, melhor. O teclista Per Wiberg (que já acompanhava a banda em concerto) passou finalmente a membro permanente. Os elementos death metal, com toda a sua força e brutalidade estão lá. Os elementos progressivos também, com um trabalho de guitarra de realçar. E finalmente tive que reconhecer a etiqueta «Death Metal Progressivo» como a mais adequada...

Resumindo e concluindo: se o leitor não tolera guturais, fique-se pelo «Damnation». Se até aceita algumas sonoridades mais pesadas aqui e ali, ouça os outros álbuns. Se é uma pessoa "do metal", deixe essas bandas formatadas que ouve e dê atenção aqui aos amigos da Suécia, que fazem o melhor metal da actualidade.
Quanto a mim, sou fã dos últimos álbuns. Não deixo, no entanto, de sentir alguma pena. Os Opeth são capazes de numa só música fazer do melhor e do pior. Com uma voz daquelas, bem que podiam manter o instrumental pesado e deixar os guturais para os outros. É o meu lado progressivo a falar...

Links:
site oficial
myspace

Concerto de S. João @ Casa da Música

O concerto de S. João organizado pela Casa da Música - de entrada livre e decorrendo na praça em frente ao edifício da Casa - começa a assumir contornos de tradição (apesar de ainda ser a 3ª edição) e uma bela alternativa aos restantes espectáculos musicais da noite de 23 para 24 de Junho de cada ano. Durante a semana desfilam pelos palcos das várias freguesias do Porto dinossauros da «música ligeira portuguesa» como Marante e o seu Agrupamento Musical Diapasão, José Malhoa, Quim Barreiros entre outros e outras importações do Brasil. Na Casa da Música porém o estilo musical escolhido é ligeiramente diferente...

Como todos os anos, o concerto deste ano começará com Música Clássica pela Orquestra Nacional do Porto, com a direcção musical a cargo de Joseph Swensen. O programa é o que se segue:

- Joly Braga Santos Stacato Brilhante
- Carl Nielsen Abertura Maskarade
- Edvard Grieg Suite n.º 1 Peer Gynt
- Richard Strauss Don Juan
- Leonard Bernstein Abertura Candide

Depois desta actuação vem o inevitável fogo-de-artifício da meia-noite, marcando a viragem de dia e de sonoridade, mais para os lados do pop e do rock. Este ano é, na minha opinião, o que tem a melhor programação. Apresentemos as bandas:



Irmãos Catita
- liderados pelo incontornável Manuel João Vieira (na foto), os cómicos, controversos e politicamente incorrectos músicos darão certamente um bom (e divertido) concerto.





Rádio Macau - banda histórica do pop português, desde os anos 80 até à actualidade, voltaram às edições discográficas este ano com o álbum «8», um esforço bem conseguido, num registo pop melódico e sereno, da parte de Xana, Flak e restantes companheiros.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Invisible Drum Kit

Sei que este blog é sobre música mas sendo bastante liberal penso que ninguém ficará ofendido se eu falar de bateristas... Brincadeiras à parte - ou não, pois todo este post é a brincar - trago um apontamento genial do senhor Rowan Atkinson, comediante britânico conhecido pelas massas como Mr. Bean (Black Adder! Black Adder!), com especial talento para a expressão corporal. Uma performance intimamente ligada com a música, mais propriamente no campo da percussão, com uma simulação de execução de bateria brilhante em termos teatrais sem negligenciar o registo cómico. Bravo!

Foge Foge Bandido: concertos para breve?

aqui falei do lançamento tão esperado pelos fãs de Manel Cruz do seu «Foge Foge Bandido». Até disponibilizei o álbum para download. Ora, a pergunta que muitos fazem é se haverá concertos de promoção do "álbum"? Posso informar, de fonte segura, que está em formação uma banda para acompanhar Manel Cruz nestes concertos! Para quando ainda ninguém sabe e, se atentarmos ao que demorou a sair a obra, não adianta especular datas.

No entanto, já houve um (único) concerto do Foge Foge Bandido! Foi no dia 1 de Abril de 2006 (não, não foi mentira) na final do concurso Termómetro Unplugged, em pleno Teatro Sá da Bandeira. Foi um concerto curto, com 5 temas tocados por um Manel Cruz sozinho em palco, baseando a sua actuação na voz acompanhada à guitarra acústica.

À luz do que já fiz com o álbum, disponibilizo também para download as músicas deste concerto (diz quem sabe que também existe por aí a circular o vídeo da actuação). Se o álbum autoriza a sua cópia para fins não lucrativos deduzo que não haja implicações legais nesta partilha. Aqui fica: DOWNLOAD

Arquivos da BBC de artistas EMI disponíveis comercialmente

Boas notícias para os fãs de música em geral e fundamentalmente para os das grandes bandas dos 60's e 70's. Porquê? Porque a BBC celebrou um contracto com a EMI que abre as portas à edição comercial de todas as pérolas que se encontram nos seus arquivos. Quantos "Live At The Beeb" não vimos já circular, em formato áudio, pelas redes de bootleggers (e ocasionalmente editados)? Queen e Led Zeppelin são alguns exemplos mas podemos contar com performances de Pink Floyd, David Bowie e outros que tal. Afinal, estamos a falar da maior estação de televisão britânica!

Aspectos positivos? Há já a promessa de edições em CD, DVD e downloads, uns a editar comercialmente, outros a disponibilizar gratuitamente (com publicidade) num site que será criado para o efeito.

Aspectos negativos
? O acordo apenas diz respeito a artistas da EMI. Ah, e os Beatles estão sujeitos a um acordo antigo por isso estão fora do baralho.

Ainda não se sabem muitos pormenores mas só podem vir coisas boas. Deixo esta para aguçar o apetite:
«Also included is a 1967 BBC radio recording of Pink Floyd performing songs from its first album The Piper At The Gates of Dawn - one of the first John Peel sessions.»

Mais informação aqui.

Wendy Carlos



Há artistas que andam a cambalear na fronteira subtil entre o piroso e o genial. Wendy Carlos é uma delas.

Nascida Walter Carlos nos Estados Unidos, define-se como "sintetizadora", compositora e fotógrafa de eclipses solares. Com o lançamento do pioneiro sintetizador Moog, criado pelo Dr. Robert Moog, em 1964, o mundo da música sofreu um violento abanão, com muita coisa a precisar de ser redifinida. Nas experiências que se sucederam - de notar que o interface não era propriamente acessível ou intuituivo, sendo por vezes necessárias várias horas para encontrar e mudar o som - muitos caminhos foram traçados e desbravados, mas um dos mais importantes passos no sentido da evolução e consolidação do instrumento foi dado com Switched On Bach (e que melhor forma de consolidar um instrumento que tocando Bach?), de 1968, que incluía peças do grande João Sebastião Ribeiro tocadas exclusivamente pelo sintetizador Moog e registadas num gravador de 8 pistas - sim, porque o sintetizador era monofónico. Todas as sobreposições de notas tinham que ser tocadas separadamente - já estão a ver a trabalheira. O álbum teve tamanho sucesso que foi o primeiro álbum de música clássica de sempre a vender mais de 500 000 cópias e a atingir a platina. Quanto à música em si (não em Si), o efeito do timbre artificial do sintetizador é muito forte e completamente descontextualizador. O que não é necessariamente uma coisa má. Depende da utilização, da tal fronteira. Para uma ideia melhor carregar aqui.
No ano seguinte Carlos gravou e editou The Well Tempered Synthesizer (1969) - referencia a Das Wohltemperirte Clavier de Bach-, um álbum basicamente nos mesmos termos mas com a inclusão de outros compositores.
Contudo, o ponto alto da sua carreira chegaria em 1971, com o filme de culto The Clockwork Orange, de Stanley Kubrick, cuja banda sonora consiste largamente em originais, adaptações e interpretações de Wendy Carlos. Num filme tão marcante e pesado a sua música aparece como um feliz complemento ou contraponto, quer dando profundidade quer funcionando como elemento irónico. Vejam-se os exemplos:

Introdução



Cena da loja de discos


Fica prometida uma análise à la Daniel mais cuidada da música em Kubrick.
Paralelamente ao lado aqui mostrado, Wendy Carlos também tem desenvolvido trabalho original a solo, como por exemplo Sonic Seasonings (1972), onde é feito uso de diversos samples, tratados electronicamente, para além do synth, a banda sonora de Tron (1982), filme da Disney, e Beauty in the Beast (1986), com diversas experiências com escalas maradas e algumas feitas especialmente para o álbum.

Goste-se ou não, há que respeitar os pioneiros. E eu até gosto.

Site Oficial

Granitos Folk 2008

Chegamos em 2008 à 5ª edição do Granitos Folk, festival de "música de raíz tradicional" nas palavras do pessoal do Contagiarte, responsáveis pela organização. Curioso como o primeiro cartaz que saiu (abaixo) aparece com a menção "Festival de Música Tradicional". Uma correcção atempada... ia criticar isso mesmo.

O festival começa hoje e dura até Sábado, e terá os portugueses MU, Dazkarieh e Galandum Galundaina - bandas bem conhecidas no meio folk português - e os estrangeiros (ou deverei dizer «músicos do mundo»?!) Amainur [Espanha], Barbarian Pipe Band [Itália] e EmBRUN [Bélgica]. Paralelamente aos concertos decorrerão também outras actividades - no espaço do Contagiarte - entre workshops, outros concertos, etc.
De realçar a bela localização da Concha Acústica do Palácio de Cristal (conhecida dos frequentadores do Palco Secundário das Noites Ritual), um sítio que me parece uma boa escolha dado o contexto do festival e a envolvente do palco.



Numa nota pessoal, não gosto do cartaz. O meu purismo alerta-me que o festival é mais freak (passe a expressão sem sentido pejorativo) que tradicional, e a correcção da menção ao tipo de música no cartaz é bem acolhida por estes lados. Gostos à parte, é uma boa iniciativa, e as boas iniciativas são para divulgar!

Mais informações aqui.

Do cinema e da música (1) - Andrei Tarkovsky

Continuemos então a falar das nossas descobertas e referências. O Andrei Tarkovsky é uma descoberta já de há uns 4 anos, mas quanto mais olho para os seus filmes mais aumenta o espanto, diria mesmo a petrificação!

Como este é um espaço sobre música, é sobre música que venho falar. A música nos filmes de Tarkovsky. Com a ajuda do YouTube, fantástica ferramenta para este tipo de textos.

Tarkovsky é um desses realizadores que descobriu que o uso da música em cinema tende a ser mais eficaz, mais potente, mais impressivo, quando é feito com parcimónia; assim, tende a reservar a música (falo aqui especificamente da música instrumental, geralmente colhida do repertório clássico) a momentos-chave do filme, de grande intensidade poética. A seguinte citação, do próprio realizador - algo longa, mas útil - ajuda a compreender:

"On sait que la musique a rejoint le cinéma, à l´époque où il était encore muet, avec le pianiste qui illustrait l´action à l´écran d´un accompagnement musical adapté au rythme et à l´intensité des émotions. Cette démarche était assez mécanique et arbitraire, une illustration facile par la superposition de la musique sur l´image, appelée à amplifier l´impression produite par telle ou telle scène. Aussi étrange que cela puisse paraître, c´est ce même principe d´utilization de la musique au cinéma qui se retrouve le plus souvent encore de nos jours. On soutient une scène d´un accompagnement musical, pour illustrer une nouvelle fois son thème central et en accroître la résonance emotionnelle. Mais parfois aussi la musique ne sert simplement qu´à sauver une scène bâclée.
En ce que me concerne, j´aime me servir de la musique comme d´un refrain poétique. Lorsque, dans un poème, nous trouvons un refrain, nous nous sentons comme ramenés, enrichis par ce que nous venons de lire, à l´inspiration première qui a porté le poète à écrire ces lignes. Le refrain nous ramène aussi à l´état qui était le nôtre quand nous sommes entrés dans ce monde poétique nouveau, et l´évoque d´une manière à la fois immédiate et renouvelée, tel un retour aux sources.
Utilisée en ce sens, la musique non seulement renforce l´impression de l´image visuelle par une illustration parallèle de la même pensée, mais elle nous ouvre en plus à la possibilité d´une impression neuve, transfigurée, qualitativament différente du même matériau. Plongés ainsi dans l´univers musical créé par le refrain, nous retournons chaque fois à des émotions que le film nous a déjà données de vivre, mais dans une expérience d´impressions et d´émotions renouvelée. Dans un tel cas, la partition musicale peut modifier la couleur et parfois même l´essence de la vie fixée dans le plan".

in Andrei Tarkovsky, "Le Temps Scellé", Petite Bibliotèque des Cahiers du Cinéma.


Efeito poético. Evitar a correspondência primária da música com a imagem. Tais desideratos só são compatíveis com a referida utilização parcimoniosa da música (como referi, falo da música instrumental, geralmente retirada do repertório), em momentos especiais: o início dos filmes, em que ajuda a definir o ambiente e, em particular, em instalar um certo estado de espírito no espectador – veja-se a utilização do Prelúdio Coral em Fá menor, para órgão, de J.S. Bach na abertura do filme Solaris, de um excerto do Requiem de Verdi em Nostalgia, ou da ária “Erbarme dich”, da Paixão Segundo S. Mateus de Bach, no início de Sacrifício; momentos muito importantes no decorrer dos filmes, em que, frequentemente, se ouve novamente a peça apresentada no início do filme, ou na cena final ou o início da Paixão Segundo S. João de Bach, no fim de O Espelho.

Vejam-se os seguintes exemplos:

Cena final de Solaris



Cena final de O Espelho



Ficando a utilização da música instrumental reservada a situações muito particulares, Tarkovsky acaba por desenvolver duas outras formas, interrelacionadas, de preencher as suas bandas-sonoras. Por um lado, irá recorrer, de forma sempre crescente ao longo da sua obra, à música electrónica; por outro, também com meios electrónicos, irá fazer um trabalho muito subtil sobre os próprios sons inerentes à acção do filme, seleccionando uns em detrimento de outros, filtrando-os e combinando-os, quase como se fosse um compositor a construir uma peça electro-acústica. O cinema é plenamente assumido como uma arte audio-visual, em que o elemento auditivo tem pelo menos tanta importância quanto o visual e, nalgumas situações, é até o elemento principal. Neste contexto, Tarkovsky acabará inclusivamente por revelar uma preferência pelo tratamento de certos objectos audio-visuais, como som da água (presente em todos os seus filmes), do fogo, do vento ou de veículos de transporte – sobretudo comboios –, dando a ideia que os escolhe tanto pela sua simbologia e aspecto visual como pelo seu conteúdo sonoro especialmente rico. Ouçá-mo-lo mais uma vez:

“Dans Le Miroir, le compositeur Artemiev et moi-même avons utilisé de la musique électronique. Je crois que ses possibilitées d´application au cinéma sont immenses. Nous voulions un son qui fut comme un écho lointain de la terre, proche de ses bruissements, de ses soupirs”

in Andrei Tarkovsky, idem

Segue um conjunto de exemplos para abrir o apetite:

Cena de Stalker (comboios, electrónica, particularmente a partir de 1:30)



Cena de Solaris (automóveis, auto-estrada, electrónica)



Cena de O Espelho (fogo, electrónica, água)



Cena de Nostalgia (água, canção popular, atmosfera onírica)



Espero que isto contribua, para os que ainda não o conhecem, para despertar a curiosidade!

Referência:

Site exclusivamente dedicado a Tarkovsky

Pós-Rock rant

O Pedro mencionou num artigo abaixo o "pós-rock" e isso deixou-me a pensar... Será que sou a única pessoa no planeta que acha isso a maior banhada da música actual?

Dia após dia, quem se interessa por música é confrontado com bandas do "pós-rock". São a nova CENA do myspace, são o futuro da música... Bandas completamente originais, cheias de ruídos e músicas instrumentais cheias de notações maradas e "que usam a voz para dar outra dimensão à sua música". E que escrevem músicas "tótil emocionais" mas sem ser emo.

Começa logo no nome: "pós-rock". A partícula "pós" é uma preposição que significa "após", ou "depois de". Ou seja, depois do rock.
Ora, o hip-hop também apareceu depois do rock. E o hip-hop não se chama "pós-rock"! Então porque é que não é o hip-hop que se chama "pós-rock" e sim este estilo em específico? Eu digo-vos: o "pós-rock" é na realidade rock! O hip-hop não é, por isso era parvo chamar-se "pós-rock".

Chamar a um estilo de rock "pós-rock" deve ser a cena mais presunçosa do planeta. É como o Andy Warhol a pinar com... Com o Andy Warhol!

"Eh pá, a nossa banda toca PÓS-ROCK!"

Foda-se!

E a originalidade? Não há uma única banda igual! O que é difícil visto cada gajo(a) da banda tocar de uma maneira completamente diferente. Cada pessoa toca de maneira diferente e cada combinação de pessoas vai dar lugar a um resultado final diferente logo, se um dia precisarmos de mais bandas "pós-rock" (para combater uma invasão extraterrestre, ou assim), basta re-misturarmos os "músicos" das bandas que já existem e voilá!

Este fenómeno está associado ao do "quanto menos formação musical melhor", porque assim mais original vai ser o "músico". Basicamente, de mastronço pra mastronço, variam os 3 padrões diferentes que conseguem fazer com os dedos.

E as músicas têm ruídos! É pá, não digam nada a bandas recentes como os Pink Floyd ou os Sonic Youth senão aposto que os desencorajam!

Estas bandas podem ser todas diferentes, e por acaso até é verdade que cada uma tem a sua sonoridade característica, mas estranhamente isso não as impede de serem todas iguais. É incrível como é que se consegue fazer bandas tão diferentes soarem tanto à mesma coisa.

Podia continuar a falar das letras presunçosas, dos instrumentos presunçosos, dos espectáculos aos vivo presunçosos, das roupas presunçosas, mas acho que vou resumir o resto da conversa numa palavra: kitsch.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Stephan Schmidt - Bach Lute Works


Já que está na moda neste blog falarmos das nossas mais recentes coladelas/descobertas, venho aqui falar-vos de Stephan Schmidt, guitarrista clássico de origem germânica. O seu álbum Bach - Lute Works, onde é tocada a obra para alaúde do Sr. João Sebastião Ribeiro, vem provar que a interpretação da Música antiga/barroca é uma das áreas onde mais se tem evoluído recentemente, favorecida pelo conhecimento e debate técnico, pelo desenvolvimento instrumental e por vários contributos doutras áreas.

Quem já tocou as Suítes Instrumentais de Bach sabe quão exigentes são a nível técnico, quão cerebrais se podem tornar devido a uma quase-supremacia do detalhe e, sobretudo, como é necessário um grande domínio estilístico e do instrumento. Tudo isto torna a naturalidade da execução de Stephan Schmidt fora de série. É uma daquelas interpretações que tem tudo "no sítio certo" - o que noutras andanças pode ser pejorativo, mas, nestas obras, é o maior elogio que pode ser feito.
A sua utilização da guitarra de 10 cordas não é, de todo, alheia ao seu sucesso, permitindo-lhe, em primeiro lugar, tocar as peças na sua tonalidade original - o que é bastante difícil numa guitarra clássica de 6 cordas - e, por outro lado, ter um excelente equilíbrio tímbrico e sonoro, que pede algo emprestado ao alaúde mas o ultrapassa completamente - em termos de projecção e diversidade de cores sobretudo.

Para quem anda a tentar - tantos exemplos poderíamos dar - reinventar a música de Bach, a audição deste CD duplo é altamente recomendável. Porque parece que tudo o que havia a descobrir, tudo o que havia de tão fantástico a descobrir, está lá escancarado nos manuscritos do compositor. Só que nem toda a gente tem a magnífica capacidade de constatar o óbvio.

Links:
Site oficial
Loja online com excertos disponíveis (em formato RAM)

Noites Ritual 2008

As «Noites Ritual», designação do que eu sempre conheci como «Noites Ritual Rock», estão de volta. O «Rock» caiu do nome e ainda bem, porque mentir é feio. Ao menos o espaço continua o mesmo, e que belo espaço, quando os jardins do Palácio de Cristal se abrem para duas noites de concertos. Duas coisas a destacar este ano:

A entrada é livre!

O que aconteceu aos programadores nacionais?
Esta questão daria pano para mangas... depois de vermos no mesmo dia do Festival Alive! Bob Dylan e Within Temptation e de vermos no Rock in Rio um dia com Orishas, Kaiser Chiefs, Muse, Offspring e Linkin Park, encontramos o cartaz do Ritual.



Não vou questionar a qualidade das bandas, até porque acho que o cartaz como um todo é superior aos últimos dois anos. Mas o que é aquela mistura? É possível alguém gostar das 3 bandas de uma noite? [1ª noite: electrónica, pop/rock, hip-hop. 2ª noite: pop/rock, pós-rock, electrónica.] Só se forem aquelas pessoas que "gostam muito de música e ouvem de tudo um pouco"... Polémicas à parte, passo a apresentar resumidamente as bandas, e qualquer um facilmente verá o desenquadramento.

DIA 29
Micro Audio Waves - Trio de electrónica, onde encontramos Flak (Rádio Macau), com relativo reconhecimento, tanto nacional como internacional.

Tiago Bettencourt & Mantha - Um concerto esperado pelos fãs portuenses do ex-Toranja para apresentar o seu disco a solo. Um registo rock melódico em trio.

Sam the Kid - Rapper de Chelas e referência incontornável no hip-hop tuga. Boa produção e conteúdo lírico.

DIA 30
Rita Redshoes - Apresenta o álbum de estreia, pop típico de «singer/songwriter» feminina, melódico/melancólico.

Linda Martini - Pós-rock (ou lá como gostam de chamar a isto), predominantemente instrumental.

Buraka Som Sistema - Cruzamento de música de raíz africana com música de dança, um fenómeno do momento, com visibilidade internacional.



Cá por mim, fico contente por ser de borla. Assim posso vir embora a meio da noite sem ter pena de gastar dinheiro e não ver as bandas todas.

Pérolas do Myspace

Até a mais bela flor nasce do estrume! Como todo o lixo que existe na internet, mesmo no myspace, por vezes, somos surpreendidos. Entre as 123971253 bandas de emo-punk que povoam o espaço, podemos encontrar algumas boas surpresas...

Tal como escavar a merda à procura de ouro, procurar bandas decentes no myspace pode ser um processo cansativo mas enriquecedor :p Para que o caro leitor não tenha de sujar as mãos com cócó, sempre que eu encontrar alguma banda merecedora de registo prometo postar aqui!


A banda de hoje é um colaboração entre este menino e esta menina. Too Dark For a Picture, mostram que o rock progressivo não tem de ser sempre como os Dream Theater o pintam!


Uma boa maneira de descrever o todo é começar pelas partes. Maxwell Lewis é um guitarrista, aliás, muito mais que isso. Produtor auto-didacta, é ele o responsável pelas músicas da banda e pelas gravações. A editora mencionada no myspace (Minus the Masses) é co-fundada por ele, o que significa que o album da banda que saiu em Março pode ser considerado uma edição independente.
As suas maiores influências são muito evidentes: Omar Rodriguez-Lopez e John Frusciante. tanto nos projectos a solo do Max como nos TDFP se nota a herança psico-espacio-progressivo-marada de ambos os guitarristas (como é obvio estou não estou a falar do trabalho do Frusciante nos Red Hot, mas sim nos seus projectos a solo).

A Rachel Williams por seu lado, é uma menina adorável. Com o seu aspecto de maria-rapaz, com aquele cabelo curto e formas femininas que parecem tardar a surgir, dá a ideia de que ainda brinca ao faz de conta.
Mas não se deixem enganar. Esta Cat Power de guitarra em punho é uma Bjork em potência nos TDFP, o que ajuda a banda a levar o som mais longe do que uma simples banda influenciada por The Mars Volta algum dia conseguiria.

Melhor que eu continuar aqui a escrever é ouvirem realmente:
Too Dark For a Picture

O Mestre do Harmónico e do Inarmónico

Aceitando o mote do Bernardo, em falar - ou invocar a presença que é mais bonito de dizer - de génios, e dado aquele triste lugar-comum de que já não existe semelhante coisa, e outras palermices desse refinado calibre, é a minha vez (parece que sou dos poucos a ainda não ter um "artigo de fundo", por isso cá vai) de invocar a presença de Gerard Grisey. Quem nunca lhe tiver ouvido o nome ou pelo menos "cheirado" uma das suas músicas, não sabe em que planeta vive!

O homem ficou famoso por ter co-fundado, entre outros com Tristan Murail, a chamada escola espectral; aliás, e como sempre, o nosso Grisey não gostava muito da etiqueta, mas já não há nada a fazer. A sua agenda era: recuperação da harmonia, recuperação da ideia de direccionalidade na música (por oposição às formas estáticas então predominantes, glorificadas na Moment-form de Karlheinz Stockhausen) e a investigação no uso ("natural") dos micro-intervalos. O efeito na música europeia (nos últimos anos, também os americanos se têm deixado fascinar, por muito que insultem os franceses acham-lhes sempre um certo requinte, a que eles próprios são alheios, como todos sabem, especialmente os que tiverem lido Oscar Wilde...) foi poderoso (como se diz overwhelming em português?).

A sua obra seminal é Les Espaces Acoustiques, grande ciclo de 6 obras, em formações desde o instrumento solista à grande orquestra. Segue abaixo um vídeo (o próprio vídeo é, reconheça-se, muito... sugestivo...) com os primeiros minutos do Partiels, obra para 18 instrumentistas.



Se esta obra corresponde - quase pedagogicamente - aos propósitos do espectralismo (trata-se no fundo de várias reiterações da série dos harmónicos que, por força da transferência progressiva de algumas notas para registos mais graves, se vai tornando cada vez mais... INARMÓNICO!!!), desde os anos 80 a sua obra evoluiu no sentido de um estilo mais rico, com obras como Talea ou Vortex Temporum, para piano e quinteto, de que segue abaixo um vídeo.



Quase a morrer - deixou-nos em 1998 - faria uma obra-prima para soprano e ensemble Quatre Chants pour Franchir le Seuil. Reflexão sobre a morte, música genial.

Para mais algumas referências (por enquanto fica apenas uma breve introdução a este mestre do harmónico e do inarmónico, haverá provavelmente cenas dos próximos capítulos):

http://brahms.ircam.fr/index.php?id=1492

Daniel

Fischer-Dieskau (2)

Na sequência do comentário ao post anterior - de que este se assume como, digamos, sub-post, aí vai um vídeo do Fischer cantando a segunda mais bela canção da história do lied: "Der Leiermann", do ciclo "Winterreise", de F. Schubert.



Este lied tem aliás um especial significado para mim, e para todos os ingmar-bergmanómanos compulsivos, pois o Mestre usou-o num filme de 1997, para a TV, "Na presença do palhaço" - filme genial, quase desconhecido, a descobrir. O efeito dessa música no filme é inenarrável...

http://www.imdb.com/title/tt0119496/

Daniel

8bit-mania

Eu nasci a meio dos anos 80. Como a grande parte das pessoas da minha geração, quem me educou não foram os meus paizinhos. Fui educado pela Sra. Sega e a Dona Nintendo.

Foram tardes muito bem passadas em exercícios didácticos de repetição e preserverança que me ensinaram o que é a vida! Foi com a NES, a Mega-Drive e as arcadas que adquiri com o suor, os calos nos dedos e muita, muita dedicação as mais importantes habilidades que possuo hoje. Não duvidem que se um dia a terra for invadida por aliens, eu e muitos outros estamos mais que prontos para defender o planeta ao comando das nossas fiéis naves espaciais. Custem os créditos que custarem!

Para quem cresceu a jogar, tal como eu, é quase fetish a música que acompanhava os joguinhos das consolas de 8bits. Devido às limitações técnicas de cartuchos e máquinas que permitiam muito poucas notas tocadas ao mesmo tempo, os programadores da época eram obrigados a arranjar soluções para tornar interessantes as músicas dos seus jogos. Uma solução recorrente eram as linhas melódicas tocadas a velocidades humanamente impossíveis, característica comum em grande parte das "bandas sonoras" dos jogos.

Hoje em dia há uma quantidade absurda de tributos à "musica de 8bits", desde bandas que tocam as músicas dos jogos mas com instrumentos a sério, até bandas que tocam originais mas com synths que simulam os sons das consolas.

O post de hoje foca-se num nicho um bocado diferente, mas que graças ao youtube também não peca por falta: as covers de músicas em versão 8bit.


Master of Puppets




Cowboys from Hell




Stairway to Heaven




Estes também são brutais:
Beat It
Always With Me Always With You

Fischer-Dieskau

Ora portantos, coiso!
É realmente triste ainda não ter escrito nada, por isso cá estou.
Como não tenho, infelizmente, nada de realmente novo para falar, falo da minha última coladela musical; como na esmae já toda a gente está farta de me ouvir falar nele, tenho que chatear outras pessoas com este senhor: o Fischer-Dieskau. Quero pelo menos falar do fascínio que tenho por ele a quem não o conhece, ou, a quem conhece mal, inspirar audições mais cuidadas...

basicamente: É um dos músicos mais extraordinários do séc. XX e o barítono mais acarinhado pelo público musical. O espantoso nele é a inteligência artística com que encara a performance e, como é óbvio, as mil vozes que consegue; a suavidade quase feminina no registo agudo, um timbre brilhante no registo grave - uma extensão realmente extraordinária. Mas estar aqui a adjectivá-lo é parvo e ingrato; num blog destes, e a falar duma pessoa como ele, de que já tudo de bom foi dito, o que interessa mesmo é partilhar-vos o meu gosto musical e suscitar, talvez, o gosto pelo trabalho deste músico; talvez até uma troca de opiniões. Ele dedicou-se essencialmente ao lied, de longe o que melhor se enquadra com a sua voz, e toda a poesia com que consegue hipnotizar um público e tornar-se perceptível, mesmo em línguas distantes, é realmente espantosa. Deixo-vos aqui uns vídeos dele(o primeiro tem legendas!) para realmente observarem como não só a voz mas como todas as suas feições mudam consoante a «personagem» e a situação musical.

Neste primeiro, um lied de Schubert, Der Erlkönig (ou «The Elfking», como é traduzido em inglês), reparem como todo o cantor muda quando fala a criança doente, o espírito que a tenta seduzir, e o pai. Não me perguntem quem é ao certo o tal Elfking, certamente que a Wikipedia sabe mais que eu. Ou o Daniel. O poema é de Goethe.



Este aqui é das «Canções de um Viandante» («Ging heut Morgen übers Feld») de Mahler, com melodia da sua primeira sinfonia. Belíssimo...o vídeo não tem legendas, mas quem o pôs no youtube postou também a tradução da letra, que ponho aqui («I went this morning over the field»)




I walked across the fields this morning;dew still hung on every blade of grass.The merry finch spoke to me:"Hey! Isn't it? Good morning! Isn't it?You! Isn't it becoming a fine world?Chirp! Chirp! Fair and sharp!How the world delights me!"Also, the bluebells in the fieldmerrily with good spiritstolled out to me with bells(ding, ding)their morning greeting:"Isn't it becoming a fine world?Ding, ding! Fair thing!How the world delights me!"And then, in the sunshine,the world suddenly began to glitter;everything gained sound and colorin the sunshine!Flower and bird, great and small!"Good day,Is it not a fine world?Hey, isn't it? A fair world?"Now will my happiness also begin?No, no - the happiness I meancan never bloom!


E pronto, já vos chateei um bocadinho. Espero que gostem.
Cumprimentos.

Bernardo.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Concerto de Guitarra

Na próxima sexta-feira, dia 13 de Junho, às 19h, no auditório da Escola de Música Óscar da Silva em Matosinhos, terá lugar o último concerto deste ano da classe de guitarra do Conservatório de Música do Porto, onde vamos interpretar, a solo e em conjunto, obras de (por ordem alfabética):

I. Albéniz
A. Barrios
Leo Brouwer
A. Carlevaro
J. W. Duarte
P. Hindemith
E. Pujol
F. Sor.
H. Villa-Lobos
J. Zenamon

Entrada gratuita, apareçam!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Quarteto 1111 - «Onde Quando Como Porquê Cantamos Pessoas Vivas»

Já falei da colecção «Do Tempo do Vinil». Quando vi a lista de título da 2ª vaga vi que ia ter que ir às compras! Este álbum do Quarteto 1111, apelidado de «Obra-Ensaio de José Cid», a isso obrigou.





Quando se fala de José Cid, a maior parte pensará numas «Favas com Chouriço», num «20 anos» ou em «Como o Macaco Gosta de Banana...». Outros - aqueles que se acham mais conhecedores - dirão que pensam num «10.000 Anos entre Vénus e Marte», a grande obra progressiva do mestre Cid, reconhecida lá fora. Pois eu digo que são todos incultos e incompletos, se não conhecem este álbum! Não vou discutir a qualidade do «10.000 Anos...», até porque o adoro. Mas José Cid é muito mais este «...Cantamos Pessoas Vivas» do Quarteto 1111. Justifico-me com as suas palavras:

«O "10.00 Anos..." pode associar-se aos Genesis, aos Yes, aos Pink Floyd... e este não. Só o consigo associar ao próprio Quarteto 1111. É muito acústico, muito puro, muito poético, muito original»

Composto por Cid fazendo uso de um poema de José Jorge Letria, este é um álbum bastante político, editado em 1975 e percursor do «10.000 Anos...». Quem conhecer o single «Vida (Sons do Quotidiano» detectará algumas semelhanças. O álbum é constituído por uma só peça, de cerca de 30 minutos, que atravessa diferentes sonoridades, fazendo uso de ambientes mais acústicos (com predominância da guitarra acústica e piano) mas chegando a outros mais característicos do rock sinfónico inglês do início dos anos 70, com os obrigatórios sintetizadores a fornecerem todas as linhas melódicas e um extenso solo de guitarra eléctrica.

Um belo jogo de dinâmicas, numa peça longa mas que não cansa, muito bem estruturada e bem cantada ao jeito do José Cid dos 70's, do registo mais melancólico ao mais intenso e «berrado». Um exemplo para todos os que gostam de fazer músicas longas mas que não o conseguem. Esta música/álbum tem muitas partes diferentes mas nem se nota, tão bem estão integradas e tão naturalmente se sucedem.

A banda era:
José Cid - Voz e teclas
Mike Sergeant - Guitarras acústicas e eléctricas, baixo
António Moniz Pereira - Segunda guitarra
Vítor Mamede - Bateria

Do Tempo do Vinil

«Do Tempo do Vinil» é uma colecção de álbuns vindos directamente dos arquivos da Valentim de Carvalho, ora reedições de vinis já perdidos no tempo ou compilações de raridades nunca editadas. De louvar o trabalho de uma equipa que se dedica à remasterização e recuperação, nem sempre fácil, de álbuns importantes no panorama musical português (fundamentalmente dos anos 70). Continua a existir muito trabalho a fazer para preencher essa lacuna, nem sempre por falta de vontade, mas muito por causa de compromissos contratuais e outros inimigos burocráticos.

Já houve duas vagas de lançamentos, cada uma com as suas pérolas.
A 1ª teve:
  • GNR - «Independança»
  • Jorge Palma - «Com uma Viagem na Palma da Mão»
  • Manuela Moura Guedes - «Alibi»
  • Sheiks - «Missing You - Integral 1965-1967»
  • Tantra - «Mistérios e Maravilhas»
A 2ª teve:
  • Quarteto 1111 - «Onde Quando Como Porquê Cantamos Pessoas Vivas»
  • Quinteto Académico - «Train - Integral 1966-1968»
  • Telectu - «Ctu Telectu»
  • UHF - «Os Anos Valentim de Carvalho» (gravações de 1980-1982)