quinta-feira, 19 de junho de 2008

Nostalgias e Acasos Cósmicos

Para deixar o Telmo um pouco mais confortável com a suposta "mariquice" do post anterior, aqui deixo também a minha, com três vídeos (na realidade três músicas que também mudaram a minha vida, já lá vai uns anitos).










A história do rock é uma curva ascendente até 1973, e depois uma lenta decadência. Há excepções, mas tão escassas, que não contrariam a tendência geral (noto que pode haver muita coisa interessante nos anos 80 e 90, mas nada ao nível de 1973). Esse Entangled, dos Genesis já sem Peter Gabriel (em 1976), é quase um canto de cisne de um certo tipo de música.

A propósito de 1973, pergunto-me que raio de acaso cósmico terá conjugado nesse ano uma série de obras-primas, entre as quais:

Pink Floyd - The Dark Side of The Moon
Genesis - Selling England by the Pound
Yes - Tales from Topographic Oceans
Mike Oldfield - Tubular Bells
Emerson Lake & Palmer - Brain Salad Surgery
Black Sabbath - Sabbath Bloody Sabbath

8 comentários:

Óscar Rodrigues disse...

Vou usar este post para te chantagear eternamente no clube selecto de compositores virtuosos!

De facto, os nossos amigos Sim, Génese, Filho-do-Émer Lago e Palmeira, Miguel do Campo-Velho, etc, e, noutro nível bem distante os Pink Floyd, entre outros, levaram o Rock a um nível artístico de orgasmo intelectual que ombreia (e muitas vezes ultrapassa) com os grandes músicos sérios (obviamente que esta expressão não é inocente... boca pa barulho...). E talvez o problema tenha sido mesmo esse. Há uma capacidade limitada de absorção de ideias pelo grande público, e a partir do célebre 1973 as coisas foram entrando mais pela simplificação e (suposta) concentração na essência do Rock. A verdade é que a continuar assim o Rock hoje existiria apenas como elemento em fusão com o Jazz e a Música Clássica, porque era esse o caminho a seguir (e que foi seguido, mas a uma escala muito menor). Ou seja, este fenómeno era mais ou menos inevitável.
Pena é que algumas pessoas não consigam identificar esse espírito marcante do Rock nestas bandas (porque ele está mais que presente) - deste o melhor exemplo de todos, Black Sabbath.

Bernardo Pinhal disse...

Só não tenho, desses, o dos Emerson Lake & Palmer e o dos Genesis, e mesmo assim, não sei se não tenho este útlimo. Os outros tenho-os todos em vinil e conheço-os uns melhores que outros (o Dark Side of the Moon, sei, obviamente, de cor).

Só me fez lembrar da belíssima Music Box, dos Genesis...!

Bem, eu tenho um problema muito grande. Não posso ouvir muitas destas coisas porque me dá uma vontade grande de chorar, quase; não há nenhum período em toda a história com a qual me identifique tanto, culturalmente, quanto o do auge do rock desse período, sessentas até meio de setentas, e irrita-me essencialmente o facto de não ter estado lá para dizer o que penso. Gosto, muitas vezes, de me imaginar nesse período. Sei que poderia ter feito boa música... Assim sendo, dou-me por muito contente por fazer o melhor que sei, a interpretar e a tocar piano! Isso, ao menos, é intemporal...

Abraço.

Daniel disse...

The Musical Box, do Nursery Crime, outro álbum incrível. De resto é só fazer as contas. É de 1971. Portanto está ainda na curva ascendente e quase no topo. E de facto, sendo uns furinhos abaixo do Selling England, é já de ficar petrificado. Que inveja eu tenho às vezes dos meus pais...

Telmo disse...

Eu não tenho inveja dos meus pais porque eles não sabem a sorte que têm. Mas sorte também temos nós e toda a gente que nasceu depois disso. Mau mesmo era ter morrido antes :P

Quanto à cena da intemporalidade, não sei porque é que o rock há-de ser temporal. É a mania de achar que o rock é de modas, que "isto é actual" e "aquilo já foi feito". Se calhar daqui a uns anos pode ser que se comece a descolar e a ver o rock como a música clássica...

Bernardo Pinhal disse...

Telmo, aquela estética do rock, daquele período que falámos, é, para mim, intemporal, no sentido de ser insuperável (ou quase, pelo menos), ou, pelo menos, no sentido de que ninguém fará igual, e ainda bem! Nem ninguém teria paciência para aquilo durante muito mais tempo!

O rock, felizmente, tem todo uma porrada de modas que foram indo e vindo, e isso faz dele o que felizmente é: pop, jovem, e muito cabrão! Esses senhores quiseram abananar os conceitos. E conseguiram! Mas só durante um bocado, porque mais não seria suportável para o público. Por isso é que não consigo dar assim tanto valor aos Dream Theater. Ok, até fazem (ou faziam, pelo menos) boa música mas...cheira tanto, tanto a velho!

Aqueles que realmente fazem destruir absolutamente tudo o que estou a escrever são os Radiohead. Acho que são um entre dois ou três grupos em toda a história a combinarem elementos perfeitos: uma excelente formação enquanto músicos, música incrivelmente inovadora, uma parte dessa música é música que entra no ouvido, e têm, sinceramente e sem exageros, possibilidades para alguém dizer, daqui a uns tempos, «têm uma intemporalidade equivalente à de um grande compositor». Confesso que até tenho medo de ouvir muita da música deles, porque me agita um bom bocado, durante uns instantes, quais são afinal os meus objectivos na vida...(mas isso também não acontece só com eles! Quando oiço o Sokolov é a mesma merda, e quando oiço os Floyd ou os Beatles também)


Por falar em Sokolov, este blog já começa a ficar um bocadinho vazio sem este nosso amigo, até porque ele é um bocadito pó grande e tudo. Também vou fazer um post com ele. Até porque alguns dos vídeos dele também mudaram a minha vida...

Daniel disse...

Bem, essa questão do temporal e intemporal é complicadita. Toda a música é situada no Tempo, na História, na Cultura. Por isso também a grande música o é. Provavelmente, o que ela tem - e que só se reconhece passada, pelo menos, uma geração - é a capacidade de exprimir, digamos, certas constantes universais do homem, e é isso que lhe dá o significado intemporal. Mas o facto é que em cada época se é intemporal de forma diferente (o que é um paradoxo muito curioso).
É por isso que também não valorizo especialmente os Dream Theater, que são mais ou menos uns epígonos de certo rock dos anos 70, e como sucede sempre nesses casos, mais vale ouvir os seus modelos. Em boa verdade, parece-me que o de mais interessante que surgiu no âmbito do rock desde os anos 80 (que foi a época em que a decadência se começou a manifestar de forma especialmente grave), se resume a três itens:
i) Metallica, até 1991
ii) entre 1989 e 1994, o fenómeno grunge, 2/3 de punk e 1/3 de heavy metal (Kurt Cobain dixit), mas na realidade algo profundamente original e autêntico, com grandes marcos como o Nevermind dos Nirvana ou o Ten dos Pearl Jam. O Smells Like Teen Spirit é um dos momentos mais altos da história do rock;
iii) depois disso, basicamente, como dizes, nada mais que Radiohead.
Quanto à questão da porrada de modas que foram indo e vindo, isso não é exclusivo do rock, é comum a todas as artes desde 1950; é mais um resultado dos tempos acelerados em que vivemos do que uma característica do rock.

Bernardo Pinhal disse...

Que fixe...ando a reparar que fazes exactamente o mesmo género de «hierarquização» musical que eu :| :|
E quanto ao grunge, o que mais aprecio é que tresanda a beatles com punk =P

Daniel disse...

Esqueci-me de referir que o grunge foi magnificamente retratado num filme recente do Gus Van Sant (grande homem, cujo uso da música também merecia uma postazinha, desde Beethoven no Elephant a Arvo Part no Gerry). O filme chama-se Last Days. Poesia pura.