quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Manifesto Eurovisão

Em jeito de continuação do meu post anterior, mas dando um passo em frente... Eu não gosto da Eurovisão mas mesmo assim consigo ser fundamentalista e ter uma opinião. Acho que todos concordamos que um concurso de bandas europeu é algo impraticável. Assim sendo, tenho para mim que só existe uma forma de tal concurso fazer sentido: servir de mostra da cultura de cada país. Quando os franceses deixaram de acreditar que falavam a língua mundial, o inglês terminou de dominar o mundo e a Eurovisão passou a ser ganha pela Irlanda/UK. Aí, alguém teve a ideia de génio de eliminar a regra mais importante: enquanto antes apenas se podia cantar na língua do país de origem, agora qualquer um podia usar a língua que quisesse. Que é como quem diz: a partir de agora todos podem cantar em inglês, porque os malditos dos insulares têm vantagem por já falarem o idioma global de nascença. Ora se a ideia do concurso já parecia fazer pouco sentido nos anos 90, passou a fazer ainda menos, já que a a única diferença entre a participação da Macedónia e da Bélgica era o número de bailarinos (o que nos poderia levar à minha teoria sobre a razão número de bailarinos/qualidade do artista, mas isso terá que ficar para outra altura).
Voltando à questão da cultura... defendo então o regresso da obrigatoriedade de cantar na sua língua de origem. Os acéfalos acharão o argumento fascista. Os mais elucidados perceberão como isto se inclui no ideário actual da Europa, em que a uma integração económica cada vez mais profunda nesta era de globalização se deverá opôr um movimento de preservação das raízes culturais de cada povo. Não creio que estas estejam em risco - a chamada world music continua a ter grande destaque - mas nem todos os países as preservam da mesma maneira. Mas a mudança não se faz com regras, faz-se com mentalidades.
Falando do caso português, que é o que me diz respeito, não precisamos de fazer algo só porque Montenegro e a Letónia também fazem. O objectivo não deverá ser o de vencer, já que o cartel balcânico tratará disso nos próximos anos. Assim, de que interessa levar músicas de discoteca, metade em inglês e metade em português, cantadas por artistas pouco vestidas ou técnicos de cosmética? Porque não concentrarmo-nos em levar algo verdadeiramente representativo?
Entenda-se que não defendo condicionalismos ao concurso. Os pirosos podem continuar a ter o seu espaço. Isto é mais uma descrição do que seria a minha participação ideal. A do ano passado já esteve mais perto disso do que a dos anos anteriores. O que ninguém pode negar, e que tem que dar que pensar, é que a melhor classificação de sempre foi a da Lúcia Moniz, nos seus 19 anos e de cavaquinho ao peito. A música, com sonoridades a piscar o olho ao tradicional, conta com o acompanhamento dos bombos e uma letra bem portuguesa. Em 1996 foi o 6º lugar. Agora, pelo menos, seria música com qualidade e sentido.



Há tantas bandas folk por aí a reivindicar a reinvenção das tradições mas a queixarem-se de falta de divulgação... eu gostava de as ver no Festival RTP da Canção. Quem diz folk, diz fadistas e derivados. Algo marcadamente português. Quem sabe corria bem e o público gostava. Podiam não ganhar mas abriam portas a outros. E podiam até ganhar e ir à Europa. E podiam, como a Lúcia Moniz, mostrar que as particularidades ganham sempre à clonagem. Se não em votos, em honra.

Para terminar, fica o vídeo da 2ª melhor prestação lusa de sempre. Porquê? Porque é fixe! :)


3 comentários:

Óscar Rodrigues disse...

A língua é só uma forma de representar a cultura dum país, o mais importante é mesmo a música, e aí nós temos muito que explorar.

Juntando este post ao teu anterior, e aproveitando a boleia dos Lordi, parece-me mais que óbvio que a única forma de ganharmos esta merda é mandarmos para lá os Moonspell a cantar a Alma Mater :P

Telmo disse...

Não acho nada! Mandem o Júlio Pereira a tocar uma merda com tomates no bandolim com a Sara Tavares aos gritos atrás que tu vês quem ganha aquela merda!

Pedro disse...

nem era preciso a sara tavares. a sofia vitória, que canta com ele, é muito boa. ironicamente, também ela foi à eurovisão com uma música ranhosa de dança, subaproveitando-a completamente.