domingo, 12 de outubro de 2008

Carl Orff a dar voltas no túmulo


Carmina Burana, de Carl Orff, dia 10 de Outubro de 2008 no Coliseu do Porto


Já há muitos anos que queria ver ao vivo uma interpretação da célebre cantata cénica de Carl Orff. Ainda não foi desta.
Apesar de tudo se parecer encaminhar nesse sentido: antes de comprar os bilhetes li boas reviews, consultei o site da companhia (Ballet Flamenco de Madrid), muita publicidade. Uma suposta inovação na interpretação no bailado. Bom...
Antes de começar o espectáculo (com um belo atraso, parece que muita malta fina demorou a encontrar os vestidos enterrados no baú) ouvimos uns senhores atrás de nós comentarem: "nós nem gostamos disto, só viemos porque ele (o filho) tem que começar a ver coisas destas", e comecei a ficar preocupado. Desligam-se as luzes, continuam a ouvir-se telemóveis, ruído, pessoal a falar, cadeiras a ranger. Não estava a correr bem. Pior correu quando o primeiro acorde de "O Fortuna" soou num volume absurdo e com um timbre de plástico: estávamos a ouvir um CD! Parece que afinal quando se compra um bilhete para a Carmina Burana no Coliseu do Porto não se pode esperar ir ouvir música ao vivo...
Apesar do início atribulado, lá nos convencemos a tirar o máximo partido da experiência. De certeza que eles iam compensar com a qualidade do bailado, que outra justificação haveria para não se levar músicos? Acontece que os músicos não fariam o que ouvimos de seguida: um CD riscado que no fim de "Fortune Plango Vulnera" - o segundo momento da obra - saltou uma faixa para trás, e com a diferença de intensidade fez a coluna dar um estalo brutal. De resto, até ao fim da actuação os estalos, saltos e riscos foram uma constante, até se tornarem verdadeiramente insuportáveis. Juntem a isso uma péssima equalização que põe em primeiro plano o ruído de fundo do CD (que qualquer gravação tem), e têm uma receita infernal. Ao menos pudemos assistir a vários momentos cómicos com técnicos de som completamente às aranhas, em pânico e sem saber o que fazer.
Quanto ao bailado em si, e à encenação, posso dizer que esteve a par da vergonha a que assistimos: nunca os bailarinos estiveram sincronizados, havendo até momentos em que ficavam parados no meio do palco a rirem-se e a olhar sabe-se lá para onde porque não sabiam para onde deviam ir. Bailarinos que olhavam para os outros a tentarem imitá-los porque não sabiam a coreografia. Momentos de sapateado em conjunto que resultaram numa batida contínua porque estava cada um para seu lado. Um desajustamento completo face à obra: por exemplo, dançar o "Circa Mea Pectora" com vestidos verdes fluorescentes e com os passos do Can-can. Uma máquina de fumos daquelas dos concertos Rock que só funcionava quando a música estava em pianíssimo - conseguindo a incrível proeza de se sobrepor aos ruídos do CD!
Para abrilhantar ainda mais a coisa, temos o público que sempre que ouvia um acorde em fortíssimo desatava a bater palmas - apesar de a música continuar (isto é, quando não voltava para trás). Ao menos com músicos sempre podíamos fazer aquele compasso de espera ridículo entre andamentos, à espera que o público se cale.
Um pesadelo, de longe o pior espectáculo a que já fui. O Coliseu não se devia dar ao luxo de ter na sua programação (tantos e tão bons concertos que já lá vimos!) um ultraje destes. De fugir!

Oscar

1 comentário:

Ska disse...

é... a tua crónica é concordante com as minhas fontes. Mas eu tinha já ideia que ia ser música gravada. convenhemos... no coliseu é preciso muita ginástica para conseguir por a orquestra + corpo de baile... infelizmente