sábado, 19 de julho de 2008

Reich e Daniel

Dia 1 de Fevereiro de 2002. Karachi, Paquistão. Daniel Pearl, jornalista americano de origem judaica, encontra-se sequestrado há pouco mais de uma semana por um grupo fundamentalista. Esse grupo fizera uma série de exigências ao Governo Americano. São recusadas. Daniel é assassinado nesse dia.

Comoção generalizada. Desde então, escrevem-se inúmeros livros, fazem-se inúmeros documentários, é criada a Fundação Daniel Pearl, faz-se pelo menos um filme sobre o assunto.

Em 2006, Steve Reich compõe Daniel Variations, em memória do jornalista assassinado. A peça é enquadrada numa encomenda conjunta de várias instituições, entre as quais se inclui a Casa da Música. Tivémos assim oportunidade de assistir no final de 2006 à sua estreia nacional, num dos melhores concertos a que já assisti.

Serve então este post para divulgar a saída da obra em cd, numa gravação absolutamente fabulosa que aconselho todos a comprar.


É certamente uma das melhores peças de Reich. Certamente a mais comovente. Pelo assunto que subjaz mas sobretudo pela própria música. Ainda que o tom esteja muito distante de um Requiem ou uma lamentação, a música tem um certo carácter contemplativo que provoca uma emoção muito contida, tão mais forte quanto evita uma espectacularidade mais fácil. As vozes são especialmente extraordinárias.

A peça usa textos do próprio Daniel Pearl - em particular o já célebre My name is Daniel Pearl, frase que pronunciou no vídeo gravado pelos fundamentalistas e difundido em todo o mundo - e textos do Livro de Daniel, do Antigo Testamento. Diz Reich que as palavras aí pronunciadas pelo Rei Nabucodonosor espelham bem o estado caótico, incerto, assustador do mundo actual; esse texto é usado no primeiro andamento da obra:

"I saw a dream. Images upon my bed & visions in my head frightened me."

Podem ser ouvidos excertos aqui.

Daniel

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