segunda-feira, 21 de julho de 2008

The Pros and Cons of Hitch Hiking


Poucos álbuns me marcaram tão profundamente como The Pros and Cons of Hitch Hiking, de Roger Waters, uma viagem delirante pelos confins da mente humana sob a forma de uma sequência de sonhos, que resulta, obviamente, numa paisagem sonora e conceptual extremamente rica e diversa.

Segundo os rumores, consta que Roger Waters terá apresentado, por volta de 1978, aos outros membros dos Pink Floyd dois esboços diferentes para o futuro álbum da banda, que continham (e isto agora sou eu a dizer) uma base similar, i. e., a análise da complexidade das relações humanas, sendo a diferença de perspectiva: uma era sobretudo externa, centrada na posição dos outros perante nós e na nossa reacção, e outra subjectiva e interna, focando os dilemas pessoais e as suas manifestações. Como os mais atentos já repararam, estou obviamente a falar de The Wall e The Pros and Cons of Hitch Hiking, respectivamente. Como aprendemos nas aulas de História (hum? Não aprendemos? Mas devíamos... Que é da II GG comparada com isto? Pff...) a banda escolheu a primeira opção , e o senhor Rogério Águas manteve o outro projecto em águas (ahah) de bacalhau, tornando-o no seu primeiro álbum a solo, em 1984. Para isso convidou nomes como Eric Clapton (guitarras), Michael Kamen (piano, orquestração e direcção, produção) e David Sanborn (sax), tornando o projecto quase num supergrupo, mas também, e não tão menos importantes, Ray Cooper e Andy Newmark (percussão), Andy Bown (Hammond e guitarra) e Madeline Bell, Katie Kissoon e Doreen Chanter (coro).

A viagem começa às 4:30 (da manhã pois claro) e segue em tempo real até às 5:13, aproximadamente, passando por momentos tão diferentes como um ataque de árabes armados na sua própria casa¹, uma boleia carregada de tensão sexual a uma jovem na Europa, um pedido de boleia numa auto-estrada perdida nos Estados Unidos, uma garrafa de vinho partilhada com alemães, entre muitos outros. O fio condutor do álbum é notável, e dá um sentido de coesão a momentos tão distintos e sem ligação aparente. Chama-se categoria. A track list é como segue:

1. 4.30 Am (Apparently They Were Travelling Abroad)
2. 4.33 Am (Running Shoes)
3. 4.37 Am (Arabs With Knives and West German Skies)
4. 4.39 Am (For the First Time Today, Pt. 2)
5. 4.41 Am (Sexual Revolution) (Waters)
6. 4.47 Am (The Remains of Our Love)
7. 4.50 Am (Go Fishing) (Waters)
8. 4.56 Am (For the First Time Today, Pt. 1)
9. 4.58 Am (Dunroamin, Duncarin, Dunlivin)
10. 5.01 Am (The Pros and Cons of Hitch Hiking...)
11. 5.06 Am (Every Strangers Eyes)
12. 5.11 Am (The Moment of Clarity)

Pelo que já foi dito, mas principalmente pelo que é impossível dizer, porque nunca lhe conseguiria fazer justiça, pelo que deixo o resto ao vosso cuidado e atenção, este é um álbum verdadeiramente incontornável, assim como uma experiência enriquecedora, em que acabamos a partilhar com o protagonista o "Moment of Clarity". Se fosse o professor Marcelo, dava 20 valores.

Aqui fica o vídeo original da Every Strangers Eyes, momento de epifania, e o link para uma review feita por mim em 2004.




¹ A propósito do episódio arabesco, e recordando episódios recentes da história britânica e londrina, aqui fica um excerto profético da letra:

"(...)
I opened my eyes and to my surprise
There were Arabs with knives at the front of the bed
Right at the front of the bed

Oh my God, how did they get in here
I thought we were safe home in England
She said, come on now kid, it was wrong what you did
You've got to admit it was wrong what you did
You've got to admit it was wrong
[Jade:] "Oh god....Jesus..."

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