quarta-feira, 6 de abril de 2011

Mixtapes

Não sou grande fã do conceito de Mixtapes. Principalmente quando estamos a falar de uma obra original do calibre do Orelha Negra.

Como me foi descrito, e eu concordo, é como alguém chegar ao Picasso e dizer-lhe "Epá, esta Guernica está bem fixe, mas deixa-me meter umas linhas minhas por cima. E uns tags."

A verdade é que, se é para meter vozes num álbum instrumental, podíamos ao menos ter um mínimo de preocupação lirística. Em três músicas diferentes, para além de nesta mixtape encontrarmos a mítica Constatação Lírica nº1, temos também pessoas a fazer rimar "Eu juro" com "Pagar juros", "em cima do palco a olhar para o Público" com "saiu no jornal Público" e "a minha mãe é cega" com "eu jogo sega".

O pior de tudo é o atestado de imbecilidade perfeita que é passado à audiência de rádio portuguesa: no ano e meio desde que o álbum saiu, consegui ouvir um par de vezes "A Cura" ou a "M.I.R.I.A.M.", muito de longe a longe, e só provavelmente na Ant3na.

Este fim-de-semana, apercebi-me que há uma música que apenas pode ser resumida como "um fã que nunca cantou mais do que os parabéns na vida, ligou o microfone do skype no pc e gravou uma linha de voz sobre A memória e lançou para a net sem o mínimo de produção", que não só passa na rádio em alta rotação como ainda tem o direito a fazer parte do jingle de uma estação.

Pessoas, não conseguem mesmo ouvir música que não tenha um refrão para cantarem?

3 comentários:

Telmo disse...

Já te disse que adoro as tuas reflexões?

Telmo disse...

Also, eu gostava mais quando as mixtapes eram compilações de canções cuja ciência residia na escolha e ordem das músicas. Tipo aquelas cenas que se faziam para as namoradas/irmão mais novos/amigos para partilhar música e dar a conhecer cenas novas.

Era brutal que a mixtape dos Orelha Negra fosse isso em vez de músicas deles com dudes a cantar por cima.

Ska disse...

ya, eu também curto mais isso. Mas a verdade é que é o que eles já fazem com a cena dos podcasts.